Meu saudoso pai, falecido em 1974, foi Chefe do Departamento Pessoal da Prefeitura Municipal de Ilhéus durante 25 anos. Nesta foto ele dança a valsa de formatura com minha irmã Maria Célia da Silva, formanda em Contabilidade pelo CEAMEV (Centro Educacional Álvaro Melo Vieira). Auto-didata, meu pai quase não frequentou escola, mas tinha domínio sobre políticae outros temas afins, lia muito: Jornais ele lia todos os dias O GLOBO e ÚLTIMA HORA, e cresci ao lado de coleções completas das obras de Jorge Amado, Machado de Assis, Alexandre Dumas, Humberto de Campos, Jãnio Quadros e outros. Ele conhecia muitas poesias, seu repertório era grande, mas Augusto dos Anjos e Castro Alves eram seus preferidos. Também o desconhecido poeta Tude Celestino de Souza, com sua poesia O Ás de Ouro, amigo das antigas de Salvador, era muito declamado por ele. Abaixo transcrevo uma das poesias que mais ouvi ao longo de toda a minha vida, que também sei de cor e que faz parte da minha história, do poeta Augusto dos Anjos:
VERSOS ÍNTIMOS
Vês! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera.
Somente a Ingratidão – esta pantera –
Foi tua companheira inseparável!
Acostuma-te à lama que te espera!
O Homem, que, nesta terra miserável,
Mora entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.
Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.
Se a alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!
Enterro de tua última quimera.
Somente a Ingratidão – esta pantera –
Foi tua companheira inseparável!
Acostuma-te à lama que te espera!
O Homem, que, nesta terra miserável,
Mora entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.
Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.
Se a alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!