Foste vítima de um terrível acidente de trânsito! Quando Juscelino Kubitschek vendeu o Brasil pras montadores de automóveis, decerto que não mediu as conseqüências ou, se as mediu, pouca importância deu pra quem ia morrer, afinal os lucros eram grandes... Não olhou sequer para o Velho Mundo, para tomá-lo como exemplo, cortado por ferrovias, de uma nação à outra. Pois é, pagamos caro por tanta tecnologia; primeiro porque morremos dia e noite, noite e dia, aos montes em acidentes nas rodovias, famílias inteiras; segundo porque o automóvel de hoje é o lixo entulhado do planeta amanhã! O capitalismo nos estimula diariamente ao sonho de consumo de possuir um carro e enquanto vamos digladiando e competindo entre nós, outros – próximos e distantes – vão morrendo, vítimas fatais, como você!
E a mídia, hein? A mídia perversa, que se alimenta de sangue e de violência, de sofrimento e de dor, te mostrou sendo arrancado das ferragens, mutilado, quase nu. O discurso do jornalista simulava indignação por morte de inocentes nas estradas por causa da negligência de outros motoristas, mas enquanto falava ele vendia a imagem de um filme do celular de alguém que estava lá, na hora, bem próximo de ti e que conseguiu te filmar já morto. Considero violação de privacidade, violação de cadáver, imoral, desrespeitosa e perniciosa essa atitude do canal de televisão de expor assim pessoas, seus familiares e sua dor, enquanto ao mesmo tempo fazem discurso de solidariedade:
o amor não se vangloria, não se ensoberbece,
5 não se porta inconvenientemente, não busca os seus próprios
interesses,
não se irrita, não suspeita mal;
6 não se regozija com a injustiça, mas se regozija com a verdade;
7 tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.
I Coríntios 13
Mas sua intenção já está desnuda até pelas próprias imagens que veicula.
É verdade, nos encontrávamos muito pouco ultimamente, mas nem por isto esqueci seu sorriso franco, sua boa prosa sobre arte, literatura, política, História... Ah, quantas histórias partilhamos!!! Você deixou saudade, amigão, somos nós os vivos que sofremos com a morte, não quem morre. Quem morre provavelmente nasceu de novo, partiu pra outra, como disse Sócrates: EU SOU A MINHA ALMA, ninguém pode enterrar-me! Aqueles que passaram por tuas mãos de professor comprometido não te esquecerão, continuarás vivo em suas memórias e no exemplo que eles darão aos seus próprios filhos. Vai com Deus, Amigo, alegrias e chuvas de pétalas de rosas te recebam na nova vida. Aqui, o que podemos dizer é que tua passagem foi amorosa, bondosa, solidária, amiga! Tenho muita honra em ter te conhecido.
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