Por: ULISSES PRUDENTE DA SILVA
A questão agrária
em solo brasileiro
provém dos muitos tempos
de domínio estrangeiro,
desde quando a terra,
dos índios, usurpada
pela corte portuguesa
foi, então, partilhada
sob o título primeiro
de Capitanias Hereditárias.
Os donatários dessas Capitanias,
como eram chamados
esses amigos do Rei que havia,
tornaram a repartir a terra
entre correligionários
sob o título de Sesmaria,
por ordem do Governo-geral
que o Rei de Portugal,
então, estabelecia.
Extensos, eram os limites,
a vista não alcançava,
onde por a planta do pé,
isso, ao índio bastava,
mas, no branco europeu
havia ambição desenfreada.
Muitos, dos tais donatários,
nem, aqui, pisaram os pés,
mas, sentiam-se “donos da terra”:
estava escrito num papel...
e instituíam a outros homens
sua representação fiel.
A “santa” igreja católica
de muita terra se apossou,
desde quando a primeira missa
nestas plagas celebrou
e a Companhia de Jesus,
logo, aqui se instalou.
Aos pés da santa cruz,
índio se ajoelhou,
ao trabalho “voluntário”,
alguém lhe convidou
e na expansão do “solo sagrado”,
o jesuíta Anchieta,
foi quem mais se destacou.
O tráfico do pau-brasil,
de extrativista exploração,
foi o responsável pela dizimação
de essências florestais nativas
e de aldeias indígenas,
aqui, neste rincão.
O índio, “não domesticado”,
embrenhou-se no sertão
para não ser morto à bala
ou a golpe de facão;
formou a primeira resistência
contra a cruel escravidão.
Contudo, alguns indígenas,
com os brancos se aliaram:
pelo sexo, pela fé ou pelo álcool
em bons servos se tornaram;
geraram filhos e filhas
que, por mamelucos,
foram chamados
e, a troco de cachaça,
muita mata derrubaram.
A lavoura açucareira
estava em franca expansão;
em terras brasileiras
era a principal produção
e o sistema escravagista
se implantou nesta nação.
O tráfico negreiro,
como era, assim chamado,
o comércio dos escravos,
tornou-se muito rentável
e, das terras africanas,
para o solo brasileiro,
negros foram transportados.
Tornou-se o “braço forte”
desta emergente nação,
o ser humano negro
em regime de escravidão,
da África trazido
em terrível grilhão.
Para o canavial...
verde-mar-plantação...
a produzir o branco açúcar
para deleite do “barão”
com muito sangue negro
derramado pelo chão.
Conquistava a liberdade,
somente, o negro fujão!
Embrenhando-se na mata,
ia parar, lá, no sertão;
encontrando-se com o índio
resistente à escravidão.
Surgiram, então, os Quilombos;
sonhos de libertação
e, também, os cafuzos,
pela miscigenação.
Ampliou-se os limites,
fundou-se vilas e cidades;
o novo mundo se enchia
com gente de muita maldade
e, na “corrida do ouro”,
as Entradas e Bandeiras
eram a grande novidade.
Negros foram perseguidos,
índios foram massacrados;
no rastro dos bandeirantes,
bem havia atrocidades...
Quilombos eram destruídos,
surgiam novas cidades...
e, com sangue derramado,
os limites ampliados.
A pecuária de corte
e, também, a leiteira;
logo, logo se expandiram
em terras brasileiras:
uma vaca valia mais
que uma negra parideira.
Muitos, “sinhozinhos”,
freqüentavam a senzala;
o feitor e o coronel,
esses, nem se fala:
quando uma negra engravidava
e o filho, então, vingava,
não se sabia, às vezes,
quem era o pai
do caboclo que chorava.
A lavoura algodoeira
e, também, a cafeeira,
além da açucareira,
tornaram-se o esteio
da economia brasileira
e os produtos de exportação,
sempre foram, os de primeira.
As culturas de subsistência,
consideradas subsidiárias,
em relação às grandes culturas,
sempre, foram secundárias.
O milho, a mandioca, o arroz...
eram deixados p’rá depois,
porém, cachaça e fumo
(já desgostei desses dois)
tinham muito valor
em toda zona portuária,
pois, por eles eram trocados,
negros, nos portos de Angola.
Escravos eram mercadoria
em nossa economia primária,
encontrados de montão
em qualquer empresa agrária:
para o branco português,
o negro e o índio que Deus fez,
não passavam de animália.
Foram uns trezentos anos
de negra escravidão,
produzindo o branco açúcar
com o verde deste torrão
e para a mesa do europeu
ia a melhor produção.
Chegou a vez do café
ser o principal na exportação.
Movimentando muito dinheiro,
acentuou a escravidão,
mas, por outro lado, também,
promoveu a imigração
para o solo brasileiro
do braço e capital estrangeiro:
italiano, oriental e alemão.
Daí, muitos fatores
concorreram para a negação
do regime escravagista
no seio desta nação,
tornando-se capitalista
o sistema de produção.
“Neguinho” para viver,
logo após a libertação;
para vestir, comer, beber...
tinha que ter “bom patrão”,
toda terra já tinha “dono”,
eis a raiz da questão.
Pouco depois...
da abolição da escravatura,
a República foi proclamada.
Derrubado o Imperador,
foi, a Pátria, governada
por um Presidente
Marechal das Forças Armadas.
De imediato, a República,
procurando se firmar,
o arraial de Canudos,
tratou, “do mapa tirar”:
numa terra de ninguém,
o povo vivia a plantar
com Antônio Conselheiro,
um beato popular,
mas, imposto ao governo,
não se queria pagar.
Muita gente morreu
p’rá não sair do lugar.
Foi uma tragédia singular:
no sertão nordestino,
a morte esteve a ceifar.
Mais uma mancha na história,
é triste ter que contar,
assim como, a memória
do famoso Lampião.
O “Rei do cangaço”,
o mais temido do sertão,
em conflito pela terra,
enfrentou “os coronéis”,
à milícia declarou guerra;
sua cabeça valia “mil réis”,
pagos em qualquer balcão.
O serviço de “capangagem”
se tornou coisa normal;
matar ou morrer,
ainda, é fato banal;
em nome do “dono da terra”
se peleja numa guerra,
defendendo “o capital”.
As relações de trabalho
em nossa zona rural,
sempre, deixaram a desejar,
sendo, de modo geral,
o operário, vítima
da injustiça social.
A Consolidação das Leis Trabalhistas,
chamada C. L. T. ,
aos trabalhadores rurais,
deixou à mercê
de quem se intitula “dono da terra”
e seu “bel-prazer”
com, apenas, o Código Civil
a lhes proteger.
A sociedade civil, então,
passou a se organizar
e Sindicatos Rurais,
começando a lutar
pela causa operária
e em Reforma Agrária
se dispôs a falar.
A ala progressista
da igreja católica
e políticos esquerdistas
abraçaram essa causa
com a “cartilha marxista”
e uma fogueira na roça
começou a esquentar.
O Estatuto do Trabalhador Rural
trouxe alguns benefícios,
foi vitória parcial:
o problema é difícil,
o descumprimento da Lei
tem sido um grande mal,
gerando tensão social
e sangrentos conflitos
em território nacional.
O Estatuto da Terra
não saiu do papel.
A “guerrilha do Araguaia”
foi um fato cruel:
jovens foram iludidos,
por conta, correram risco,
encontraram a morte ao léu.
Em se tratando de Leis,
não podemos deixar de citar
a Usucapião pro labore
e nela se apoiar
para garantir a posse da terra
a quem nesta trabalhar.
Contudo, os interesses
das classes dominantes,
na cidade e no campo,
tratam, as Leis, de resguardar.
Para fazer valer o direito,
o sistema tem defeitos,
não se pode confiar.
Num país como este,
de extensão continental,
onde, o costume de transgredir
é um vício nacional,
principalmente, contra o fisco
e em cláusula contratual;
ainda se encontra por aí,
do Oiapoque ao Chuí,
quem pratique a escravidão,
apesar, de ser ilegal.
Poucos foram os civis,
na Presidencial função,
altas patentes militares
governaram esta nação,
usufruindo mordomias,
perseguindo a democracia
em meio à corrupção.
Agora, a gente vota
direto p’rá Presidente
e pode se candidatar,
achando conveniente
e viajar pelo mundo
é o duro desse batente.
O Presidente e seus Ministros,
Senadores e Deputados
e, também, Meretíssimos
do vitalício Judiciário
constituem os três poderes,
ganhando altos salários,
ainda assim, em corrupção
se envolve algum salafrário.
O ranço da escravidão
impregna esta nação,
muitos querem mandar,
outros querem ser ladrão,
alguns, querem trabalhar
com toda dedicação.
Apesar de cristã,
ser a nossa tradição,
poucos querem servir,
ocorre muita humilhação;
aos preceitos do Mestre,
falta, sim, compreensão.
Entender o paradoxo,
requer iluminação:
“quem quiser ser senhor,
que seja servo”,
essa, é a dura lição.
O latifundiário, então,
tornou-se o grande “barão”,
o “atual donatário”,
detentor da concentração
de terras e numerários,
pela lei da mais valia,
explora o braço operário
e é politicário,
interferindo no processo
de qualquer eleição.
A terra, ainda agora,
pode, até, ser arrendada,
com muitos anos de trabalho,
algum dia, ser comprada
e, com a cultura instalada,
sempre, é mais valorizada.
O agrícola empresário,
aquele politicário
e seu publicitário
não têm nada de otário
em dia-a-dia ordinário,
mas, o extraordinário
desse nosso rimário
é p’rá chamar a atenção
sobre o sistema agrário
vigente nesta nação.
Arrendatários e “grileiros”,
“meeiros” e/ou parceiros,
herdeiros e “posseiros”
retalham a terra em quinhão;
cultivam o solo brasileiro;
com sangue e suor
regam este chão.
“Volta e meia”, o Estado,
facilita a aquisição
de uma gleba de terra
para quem tenha vocação
de, com a empresa agrícola,
enriquecer e ser patrão.
Tornou-se, então, patente,
para toda população,
a necessidade, urgente,
de se fazer distribuição
de renda e de terras
para o bem desta nação.
Movimentos populares
de reivindicação
pela Reforma Agrária
têm crescido neste chão,
fortalecendo nosso povo
no combate à exclusão.
E, as bandeiras vermelhas
dos “sem terra” organizados,
já flamejam sem horário
sob o grito do operário:
“ocupar, resistir e produzir!”
Este é o lema a persistir.
Se não tens vocação
para a empresa agrícola,
por que reter a terra?
È ser muito egoísta!
Promova a Reforma Agrária
e serás pessoa altruísta.
Na família, às vezes,
tem o agricultor latente,
ceda, então, o espaço
para aqueles competentes
ou, senão, dê a chance
aos que são aderentes.
A mão-de-obra familiar
pode, muito bem, ser obtida
conforme solidariedade
em metas pré-definidas
e a sustentabilidade da terra
será, então, defendida.
As cidades estão inchadas
pelo êxodo rural
e assentar o homem no campo
pela agricultura geral,
torna-se, um tanto, premente:
essa é uma questão ambiental!
Sem mão-de-obra e capital
p'rá gerar economia,
que serventia tem a terra,
esse meio de produção?
Só se for para reserva,
preservando a ecologia.
Por se fazer necessária,
ampliou-se o movimento
pela Reforma Agrária
e, em cada assentamento,
tornou-se um tormento
as técnicas agropecuárias.
Mas vale a pena tentar,
se, da lavoura, ainda,
não sabes cuidar,
espera-se que um dia... saibas!
Pois, o processo dialético
na interação com técnicos,
gerando o “feed back”,
pode, a todos, transformar.
Envolve a Reforma Agrária,
em holística concepção,
a mudança de paradigma
nos sistemas de produção
p’rá conservação dos recursos
da futura geração.
O modelo agrário geral,
meramente capitalista,
chamado convencional,
tornou-se consumista
da indústria de agrotóxicos;
é um modelo anti-ecológico
que ao meio-ambiente prejudica.
Jamais, por mera retórica,
faço essa observação:
o que liga o homem à terra
não é o mísero milhão,
o lucro conseqüente
de qualquer plantação
depende do manejo do solo,
é uma constatação.
A mãe-natureza,
em louvável ação,
sempre aponta o caminho,
exigindo observação:
os fenômenos estão patentes,
mas, aquilo tão aparente
pode ser mera ilusão.
O manejo dos solos
requer sabedoria,
respeito à natureza,
dinâmica harmonia,
boa dose de ciência,
um tanto de paciência
e um pouco de poesia.
Um semeador saiu a semear
em terra seca dura semente,
palavra p’rá gente
feita de pedra que vira pó.
À beira do caminho
pássaros fizeram ninhos,
a poesia se esparramou,
provaram, dela, os passarinhos;
o semeador chorou baixinho
pela semente que não brotou.
Há, sempre, uma cruz
marcando na estrada
um fim de jornada
e a semente plantada
em terra adubada,
profunda e fecunda
com a chuva renascerá...
Trazendo alegria
na alma refeita,
após a colheita
e aquele banquete
regado a bom vinho,
no Sul da Bahia,
sem cama macia,
um poeta se deita,
descansa a caneta
e dorme sozinho.
Semente lançada,
ação consumada.
Atenção no aviso,
não corra perigo,
quem planta mostarda,
não colhe pepino.
Aprendi com os antigos,
desde menino:
não faça o que faço,
mas, faça o que digo.
Não podemos deixar
de chamar a atenção
p’rá séria questão agrária
que comove “certa” região
e requer das autoridades
uma justa intervenção.
A região supracitada
é a Região Sul da Bahia,
por muitos decantada
em forma de prosa e poesia
e tem na cacauicultura
a base da economia.
A “febre do cacau” gerou
essa questão mui delicada,
pois, em Reserva Indígena ,
áreas foram tituladas,
levando índios e fazendeiros
a se enfrentarem em luta armada.
Os conflitos se estendem,
há mais de vinte anos,
fazendeiros e indígenas
vêm se digladiando
e as “terras do sem fim”
com sangue manchando.
É dado este recado
com muita emoção,
quem quiser me conhecer,
será uma satisfação
receber o seu abraço
e seu aperto de mão.
“Quem tiver olhos, que veja,
quem tiver ouvidos, que ouça”,
o meu nome vou dizer,
sou um espírito que erra,
peregrino nesta terra,
contudo, amo você...
U m simples servidor,
L ivre pensador,
I nvocando ao Senhor,
S em hipocrisia;
S obre Reforma Agrária,
E m “terras do sem fim”,
S emeia poesia....
P oeta oportunista,
R ima com a ocasião,
U ma musa encantadora
D á, ao poeta, inspiração.
E m solo brasileiro,
N unca vi, então,
T anto embusteiro
E nriquecer “metendo a mão”.
D izem que “Deus é brasileiro!”
A bençoado, seja este chão!
S em-terra, sem-teto, sem-pão...
I nvoquemos, Deus, primeiro!
L ivrai-nos, ó Deus, da humilhação...
V amos à luta companheiros!
A baixo a exclusão!
Este recado é liberado
aos meios de comunicação.
Espero, apenas,
do meu nome, a menção,
mas, se me ofertarem dinheiro...
aceitarei com gratidão.
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