Quanto mais me aproximo da Lei e a conheço, mais me decepciono com ela. Desiludo-me. Que bom! É melhor não estar iludida.
A Lei que rege a sociedade brasileira é, em várias instâncias e nas mais diversas linhas de pensamento, elitista, excludente, venal.
Vós que fazeis as leis, com quem tendes estado comprometidos, senão com vosso próprio luxo e vaidade? Tendes alimentado e fortalecido o abismo entre as classes sociais, criando prisões onde encarcerais o povo atrás de grades imundas, em lugares obscuros e sombrios onde campeia a morte, a traição, o temor e o medo. Tudo isto para que vos possais manter ricos e poderosos. Donos. Proprietários. Tudo isto pelo dinheiro, um pedaço de papel que criastes para iludir os fracos e fortalecer-vos na arte da tirania e do domínio.
Muitos de vós estais retos na conduta e a duras penas conseguis sobreviver entre as víboras.
Acreditais mais em serdes “espertos” do que em serdes sábios.
Considerai com mais estima os que vos propiciam propinas a aqueles que vos servem diariamente.
Diariamente ousais cinicamente sacudir na cara do pobre seu luxo, suas roupas, seus sapatos, carros modernos e perfumes, com suas propagandas caras, criativas, subliminares. Diariamente os perturbais a todos, invadindo suas casas (suas – de quem?), seu espaço privado, para chamares atenção sobre vós e o que vendeis; mas o dinheiro a mais com que ficastes para então construirdes vossas mansões luxuosas, vossas piscinas, vossos jardins particulares, vossas festas, vossas orgias, é justamente o que falta a aquele outro que agora, por desejar tudo que tendes, encontra-se privado da liberdade.
Sois os verdadeiros ladrões, mas forjais inocência e entregai outros para o sacrifício.
Preferis construir mais presídios e fortalezas a dividir vossa riqueza! Se o fizerdes, continuareis ricos. Sereis mais ricos ainda se a dividirdes, pois a violência se acalmará, a fome cessará, a miséria desaparecerá, não haverá mais crianças dormindo nas ruas e nem loucos ao sereno da madrugada. Poder-se-á tirar as grades das casas e viver em paz.
A tecnologia, a informática, a nanotecnologia trouxeram muita riqueza para poucos e muito lixo para o planeta inteiro. Estão comprometidas várias espécies de animais, o meio-ambiente está totalmente desequilibrado, as cidades desabando, mas continuais a defender o progresso e o desenvolvimento. O óleo vaza em mares e oceanos, matando aves e peixes incontavelmente, mas continuais defendendo a extração de petróleo e suas refinarias. Quantas vidas os veículos automotores ceifam por ano? Por dia? Por minuto – já que vos afeiçoais tanto às estatísticas? Mas insistis em adquirí-los, ainda que por sobre cadáveres de tantas famílias que vêm a óbito a um só tempo, abatidos em sacrifício em nome do deus dinheiro, vosso deus poder.
E enquanto povo e polícia se matam uns aos outros, em guerras que servem aos interesses escusos que motivam vossas ações, brincais confortavelmente em suas mansões luxuosas.
Preferis matá-lo que dividir a riqueza. Preferis enterrá-lo que devolver-lhe a terra. Preferis abandoná-lo ao relento – homens , mulheres e crianças - a dividir com eles um dos muitos tetos que possuís. Preferis mantê-lo analfabeto para assim melhor poderes manipulá-lo.
Forjais guerras entre as nações, povos têm se lançado uns contra outros e enquanto isso projetais e mandais construir armas genocidas. Tendes pregado o ódio, não o amor, tendes distribuído armas, vossas noticiam cheiram a sangue, enfatizam o crime.
A cultura, o teatro, a filosofia e a lei permanecem reféns de vossa vaidade, não quereis dividi-las. Dominá-las é sinal de poder.
Nenhum comentário:
Postar um comentário