Maria de Lourdes da Silva
A disputa da eleição presidencial no Brasil, neste ano de 2014, reflete, em si, toda a trajetória do povo brasileiro, sua história, suas lutas, as guerras e guerrilhas, as revoluções.
De
um lado temos um representante das elites insanas deste país,
homem, branco, rico, culto (talvez), um coronelete nascido em berço
de ouro, acostumado desde pequeno com o ambiente político e a ser
servido por muitos “criados”. Seu grupo é aquele que governou o
Brasil durante oito anos, no final do século passado, através do
pseudo sociólogo que disse “esqueçam tudo que eu escrevi”,
assim que se elegeu Presidente da República. Sua troupe
neoliberal saiu por ai vendendo e sucateando o Brasil: venderam o
BANEB, o BANESPA, o BANERJ, a TELEBAHIA, a TELESP, a TELEMIG, por
pouco não venderam a PETROBRÁS. Durante o governo dos tucanos
nenhuma universidade foi criada e o modelo de financiamento da casa
própria partia de um piso que permitia apenas à classe média e aos
ricos da vez comprarem suas casas próprias. Este governo
representou o latifúndio, a propriedade privada, a exploração do
trabalho. O sinhozinho vem de uma família tradicional da
política mineira, a oligarquia Neves, no poder desde a Ditadura
Militar, há mais ou menos 50 anos, portanto. Sua política elitista
e sua prepotência de coronel nos remetem aos ricos decadentes deste
país, apegados ao poder, acostumados a mandar e desmandar a seu bel
prazer e de acordo as necessidades da manutenção de suas fortunas,
ultrapassados, porque nunca foram capazes de repartir com o povo a
“sua” terra. A resposta a esses poderosos o povo já deu nas
urnas, no primeiro turno, entre outros Estados, na Bahia – com a
derrota do Carlismo - e em Minas Gerais -com a derrota do candidato
do Coronel Neves (como o intitula o professor Braulino Santana, no
Raposa Felpuda).
Do
outro lado temos uma mulher, forjada na militância política em
defesa dos direitos dos cidadãos, da democracia, da liberdade. Uma
mulher que não aceitou o Golpe Militar e se reuniu com seus pares
combatendo o arbítrio, a impunidade, a violência, a tortura, o
desrespeito aos civis, fossem eles professores, estudantes,
jornalistas, advogados, políticos ou simples desempregados, fossem
eles brancos, negros ou índios, homens ou mulheres... Foi presa e
torturada no período da Ditadura Militar, enquanto seu adversário
usufruía, junto com o vovô, das beness do poder ilegal e
imoral do Regime. Pegou em armas sim, para defender o meu, o seu, o
nosso direito de estarmos aqui hoje e podermos falar o que queremos e
o que pensamos. Seu governo é marcado por um avanço nos direitos
civis das chamadas minorias políticas, grande maioria da sociedade.
A Lei Maria da Penha foi reforçada, ampliada, estendida às mulheres
brasileiras através das DEAM’S. Criou mais de duzentas escolas
técnicas, construiu universidades federais por todo o país,
desenvolveu programas de inclusão nas mais diversas instâncias,
garantindo as cotas para negros e estudantes oriundos de escola
pública nas universidades federais e estaduais, e agora direito a
cota em concurso público. Sua política social tem a marca da
consistência, da seriedade, da sobriedade, do compromisso.
Construiu e entregou mais de três milhões e meio de casas próprias
no programa MINHA CASA MINHA VIDA, lembrando o detalhe que a casa é
no nome da Mulher; garantiu o Bolsa Família tirando milhões de
brasileiros e brasileiras da linha da miséria; construiu
restaurantes populares por todo o país, onde o povo pode almoçar
pelo preço de dois reais. O dinheiro do governo federal, como uma
sangria desatada, levou 500 anos sendo derramado nos cofres
particulares dos ricos deste país. A primeira tentativa de mudança
deste fluxo deu num Golpe Militar financiado pelos EUA, no exílio de
um Presidente que havia sido eleito pelo povo, na prisão, exílio e
até morte de intelectuais, no incêndio da União Nacional dos
Estudantes, e tantas outras arbitrariedades perpetradas pelo Regime,
contra o povo, entre 1964 e 1985; isto sem falar da Cabanagem (no
Pará, sec. XIX), da Conjuração Baiana (sec. XVIII) e de Canudos,
(na Bahia, sec. XX), da Sabinada (em Recife, sec. XIX) e da Revolução
Constitucionalista (em São Paulo, sec XX), entre tantas outras
revoluções comandadas pelo povo, pelos índios, pelos negros, por
mulheres, nos rincões deste país, isto é, na História do Brasil,
quando os ricos percebem que não são os seus interesses que estão
sendo a prioridade do governo federal ou estadual, eles se juntam com
tropas militares ou paramilitares ( a UDR está aí a postos)
enforcam crianças, destroem cidades inteiras, matam as lideranças
ou forjam mentiras sobre elas, como o caso do Plano Cohem, no governo
de Getúlio Vargas.
Então é isso: há apenas 12 anos nosso país mudou e tem conseguido
manter um novo rumo, uma nova artéria foi desenvolvida, desta vez
jorrando sangue e vida para as crianças das periferias, para as
mulheres, para os negros, para os deficientes, para os pobres.
Todos
sabem que é ideológico no mais visceral sentido Marxista, o
discurso do candidato das elites, quando ele diz que representa a
indignação do povo. É suscetível que ele represente alguma
indignação, mas não a do povo. Das elites brancas, sim, que viram
nestes últimos doze anos, negros e estudantes de escola pública
entrando nas universidades estaduais e federais para cursar Medicina
ou Direito; mulheres pobres, que sempre fizeram muitos filhos e todos
viviam na miséria, recebendo agora o Bolsa família, que minimiza
sua pobreza enquanto outros programas do governo atendem seus filhos
e a ela, preparando um futuro menos perverso, mais promissor para a
família; o governo tem um programa chamado A CAMINHO DA ESCOLA e
manda bicicletas para as crianças matriculadas que moram longe do
colégio, mas as bicicletas vêm para as prefeituras e aí a
corrupção, a ganância, a usura emperram todo o processo. É
ideológico porque ele tenta fazer o eleitor acreditar que ele é o
libertador, quando ele é o carrasco e como dizia Karl Marx, tenta
transformar em cúmplices do próprio carrasco aqueles que acredita
sejam alienados ao ponto de deixar de votar em si mesmos para votar
nele, pois nestes 500 anos sempre se investiu na perpetuação do
analfabetismo, da ignorância, da miséria, da pobreza, da esmola,
dos favores devidos aos coronéis.
E
é aí que mora a diferença dos últimos doze anos da política
brasileira: o governo investiu em educação, em médicos, em saúde,
em moradia, em alimentação, em proteção aos civis e isso fez com
que o cidadão esteja menos suscetível e fragilizado diante de seus
antigos e centenários algozes, que desejam cooptá-lo, para logo
depois descarta-lo, como soe acontecer. Parodiando a eminente
professora Marilena Chauí, podemos dizer que neste processo
começamos a abandonar a ingenuidade e os preconceitos do senso
comum, a não nos deixar guiar pela submissão às ideias dominantes
e aos poderes estabelecidos, a buscar compreender a significação do
mundo, da cultura, da história.
"A disputa da eleição presidencial no Brasil, neste ano de 2014, reflete, em si, toda a trajetória do povo brasileiro..." Essa frase capta de forma brilhante o real significado do que está em jogo nestas eleições. E o texto é preciso pois nos convoca a assumir que as poucas coisas que nos dividem são ninharias em torno daquilo que pode nos unir. Somente Dilma, o seu carisma e suas políticas são capazes de nos lembrar que podemos ainda ter um futuro. Belíssimo texto, Lourdinha, beijos, Braulino.
ResponderExcluirBraulino, você é meu mestre. Amo o Raposa Felpuda, gosto de seu estilo contundente, preciso. Publiquei uns textos seus, maravilhosos.
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