novembro 19, 2009

LIBERTEM CÉSARE BATTISTI

Carta aberta de Cesare Battisti a Lula e ao Povo Brasileiro


CARTA ABERTA
AO EXCELENTÍSSIMO SENHOR
LUÍS INÁCIO LULA DA SILVA
PRESIDENTE DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL
SUPREMO MAGISTRADO DA NAÇÃO BRASILEIRA
AO POVO BRASILEIRO
"Trinta anos mudam muitas coisas na vida dos homens, e às vezes fazem uma vida toda". (O homem em revolta - Albert Camus)
Se olharmos um pouco nosso passado a partir de um ponto de vista histórico, quantos entre nós, podem sinceramente dizer que nunca desejou afirmar a própria humanidade, de desenvolvê-la em todos os seus aspectos em uma ampla liberdade. Poucos. Pouquíssimos são os homens e mulheres de minha geração que não sonharam com um mundo diferente, mais justo.
Entretanto, frequentemente, por pura curiosidade ou circunstâncias, somente alguns decidiram lançar-se na luta, sacrificando a própria vida.
A minha história pessoal é notoriamente bastante conhecida para voltar de novo sobre as relações da escolha que me levou à luta armada. Apenas sei que éramos milhares, e que alguns morreram, outros estão presos, e muito exilados.
Sabíamos que podia acabar assim. Quantos foram os exemplos de revolução que faliram e que a história já nos havia revelado? Ainda assim, recomeçamos, erramos e até perdemos. Não tudo! Os sonhos continuam!
Muitas conquistas sociais que hoje os italianos estão usufruindo foram conquistadas graças ao sangue derramado por esses companheiros da utopia. Eu sou fruto desses anos 70, assim como muitos outros aqui no Brasil, inclusive muitos companheiros que hoje são responsáveis pelos destinos do povo brasileiro. Eu na verdade não perdi nada, porque não lutei por algo que podia levar comigo. Mas agora, detido aqui no Brasil não posso aceitar a humilhação de ser tratado de criminoso comum.
Por isso, frente à surpreendente obstinação de alguns ministros do STF que não querem ver o que era realmente a Itália dos anos 70, que me negam a intenção de meus atos; que fecharam os olhos frente à total falta de provas técnicas de minha culpabilidade referente aos quatro homicídios a mim atribuídos; não reconhecem a revelia do meu julgamento; a prescrição e quem sabem qual outro impedimento à extradição.
Além de tudo, é surpreendente e absurdo, que a Itália tenha me condenado por ativismo político e no Brasil alguns poucos teimam em me extraditar com base em envolvimento em crime comum. É um absurdo, principalmente por ter recebido do Governo Brasileiro a condição de refugiado, decisão à qual serei eternamente grato.
E frente ao fato das enormes dificuldades de ganhar essa batalha contra o poderoso governo italiano, o qual usou de todos os argumentos, ferramentas e armas, não me resta outra alternativa a não ser desde agora entrar em "GREVE DE FOME TOTAL", com o objetivo de que me sejam concedidos os direitos estabelecidos no estatuto do refugiado e preso político. Espero com isso impedir, num último ato de desespero, esta extradição, que para mim equivale a uma pena de morte.
Sempre lutei pela vida, mas se é para morrer, eu estou pronto, mas, nunca pela mão dos meus carrascos. Aqui neste país, no Brasil, continuarei minha luta até o fim, e, embora cansado, jamais vou desistir de lutar pela verdade. A verdade que alguns insistem em não querer ver, e este é o pior dos cegos, aquele que não quer ver.
Findo esta carta, agradecendo aos companheiros que desde o início da minha luta jamais me abandonaram e da mesma forma agradeço àqueles que chegaram de última hora, mas, que têm a mesma importância daqueles que estão ao meu lado desde o princípio de tudo. A vocês os meus sinceros agradecimentos. E como última sugestão eu recomendo que vocês continuem lutando pelos seus ideais, pelas suas convicções. Vale a pena!
Espero que o legado daqueles que tombaram no front da batalha não fique em vão. Podemos até perder uma batalha, mas tenho convicção de que a vitória nesta guerra está reservada aos que lutam pela generosa causa da justiça e da liberdade.
Entrego minha vida nas mãos de Vossa Excelência e do Povo Brasileiro.
Brasília, 13 de novembro de 2009
Cesare Battisti
http://cesarelivre.org/node/183

Carta em solidariedade a Cesare Battisti, por uma decisão justa e soberana do Estado brasileiro: a sua libertação
Dezembro de 2008
Vimos, em nome de brasileiros das mais diversas cores ideológicas, manifestar solidariedade ao escritor Cesare Battisti, cidadão italiano mantido preso pela Polícia Federal em Brasília desde março de 2007, acusado de crimes que nega ter cometido, com motivação política, ocorridos em seu país, na década de 1970 -- época em que o mundo estava dividido em dois pólos ideologicamente antagônicos e aconteciam conflitos em ampla escala, nas diversas nações.
Cabe salientar o quanto o episódio é inoportuno, num momento em que o Brasil desfruta de invejável liberdade, começa a pagar suas dívidas sociais e desenvolve esforços para ser reconhecido pelos organismos internacionais como uma nação capaz de assumir responsabilidades maiores na condução dos destinos da humanidade.
Neste sentido, é imperativo sermos vistos como um país que não só respeita os direitos dos seus próprios cidadãos, como apóia os estrangeiros vítimas de perseguições políticas em seus países de origem. A concessão de refúgio humanitário, nesses casos, é uma nobre tradição brasileira da qual não deveremos jamais abrir mão.
Cesare Battisti já sofreu demais. Merece viver em liberdade, com sua família, exercendo o ofício em que tanto se destacou. Merece a hospitalidade dos brasileiros cordiais (torçamos para que eles ainda existam e se manifestem!).
Não é só Cesare que está sendo posto à prova. Nós também: nossos sentimentos humanitários, nosso espírito de justiça, nossa consciência solidária.
Seria motivo de imensa vergonha para nós não oferecermos a um idealista injustiçado condições análogas às que propiciamos a ladrões como Ronald Biggs e ditadores com Alfredo Stroessner.
NOSSA LUTA NÃO É SÓ POR CESARE. É TAMBÉM POR NOSSA DIGNIDADE E ORGULHO NACIONAL.
VENCEREMOS!

Carta de Anita Prestes (filha de Olga Benário) pedindo a Lula que não entregue Battisti


Exmo. Sr. Presidente da República
Luiz Inácio Lula da Silva.
Na qualidade de filha de Olga Benário Prestes, extraditada pelo Governo Vargas para a Alemanha nazista, para ser sacrificada numa câmera de gás, sinto-me no dever de subscrever a carta escrita pelo
Sr. Carlos Lungarzo da Anistia Internacional (em anexo*), na certeza de que seu compromisso com a defesa dos direitos humanos não permitirá que seja cometido pelo Brasil o crime de entregar Cesare Battisti a um destino semelhante ao vivido por minha mãe e minha família.
Atenciosamente,
Anita Leocádia Prestes
http://cesarelivre.org/node/196

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