... Em meio aos clamores, discursos engessados preponderam com mero intuito de atenuar fracassos educacionais, incitando corridas incessantes na busca de opções que suavizem a crise. Entre erros, experiências e fracassos, problemas ganham lugares-comuns, e essas falácias, de tão remotas — pois, desde a Proclamação da República até hoje, propostas se confundem —, originam conflitos, acusações ao ponto de diagnósticos desnortearem profissionais. E assim, ideais e objetivos se imergem no espetáculo das preleções políticas que silenciam no fechar das cortinas, dando sequência ao roteiro das farsas “Igualdade de oportunidades educacionais” e “Educação como direito de todos”.
Todavia, se retroagirmos alguns passos, aportaremos em 1549 — Período Jesuítico —, quando a história da nossa Educação se iniciou sem fundamentos nem propósitos para a formação do humano. Durante mais de dois séculos, a Educação elitista arranhou culturas, fragmentou tradições, aniquilou valores, pois o religioso era o alvo, o sentimento a ser despertado... Ler e escrever foram apenas caminhos para se chegar à escola secundária. Educação era privilégio dos ricos.
A situação ficou tão crítica que, em 1750, o rei de Portugal, D. José I, designou o Conde de Oeiras, José de Carvalho e Melo — o Marquês de Pombal —, para retificar os males radicados pelos jesuítas. Este, ao se deparar com o caos, alarmou e, para cumprir a missão, foi impelido a travar uma acirrada guerra, que resultou na expulsão dos jesuítas da colônia portuguesa.
O avanço foi extraordinário na ótica dos pombalinos, que descreveram saltos surpreendentes, mas os professores, mesmo com funções definidas, não eram capacitados, e, por serem mal remunerados, a Educação tropeçou nas próprias pernas e desabou no abismo do descaso.
Mas, como um dos alvos era extinguir os princípios jesuíticos, em 1808 a peleja se exaltou com a chegada da família real portuguesa, dando início ao Período Joanino, e a Educação, que transitava entre fracassos e rupturas, sofreu mais um golpe quando D. João VI deliberou transferir para o Brasil o Estado português.
O impacto deu início ao frenético processo emancipatório e fez com que pedras rolassem e se edificassem bases que, na ocasião, afirmavam avanços consideráveis no processo educacional, como a abertura de academias militares, da Biblioteca Real, de escolas de Direito e Medicina... E a Educação permaneceu em segundo plano.
Em pouco mais de uma década — Período Imperial (1822–1889) —, Educação e ensino se atarracavam. Tanto que, em 1823, na estuação de amenizar as dificuldades, o Império se amparou no ensino mútuo como única alternativa de diminuir a crise educacional. E, no confronto entre o “decurião” — aluno de melhor aproveitamento — e a “decúria” — aluno com dificuldades —, o “decorado” era reproduzido como original e ambos assumiam a desafiante missão de aprender, obedecendo a hodierna tendência “desorientados guiando perdidos”, e a aprendizagem acontecia de forma grotesca, sob a atenção acirrada de um inspetor que mais aprendia do que vistoriava.
No alvorecer do Período Republicano, a chamada República Velha (1889–1929) prometia, mas não cumpriu o desígnio do sistema presidencialista de “formar” por meio da substituição da predominância literária pela científica, pois nem mesmo a Reforma Benjamin Constant, que recorreu à “liberdade e laicidade”, obteve sucesso.
Como veia de escape, no impulso de asfixiar os conflitos de um período complexo, precipitou-se a Reforma João Luiz Alves na esperança de que uma pitada de Moral e Cívica enfraquecesse a crise. Não impetraram grandes conquistas, e foi preciso criar o Ministério da Educação para gerenciar mudanças que arraigassem a Educação brasileira do lamaçal através do esboço de caminhos seguros.
Inventaram o Estado Novo (1937–1945) para que tendências fascistas pudessem criar um norte político-educacional. A ânsia era tamanha que não perceberam o equívoco, mas pior do que o Conficker, introduziram no sistema um vírus que provocaria a doença educacional brasileira: “o impaludismo das tendências”.
Não teve jeito, o Estado Novo envelheceu precocemente e foi ultrapassado por gerações cada vez mais sedentas de novo, e, assim, nasceu imatura a República Nova (1946–1963) para cumprir a incumbência de criar uma vacina com poderes de refrear os efeitos colaterais das tendências. O surto exigiu uma operação recheada de reformas de emergência, e uma nova Constituição de cunho liberal e democrático foi votada.
Entre os entulhos dos desmoronamentos, fórmulas foram restituídas, como “educação é direito de todos”; as sementes das siglas começaram a ser semeadas, como o Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac); e a responsabilidade entre Estado e União foi selada.
Não se conteve a desordem, que descambou ladeira abaixo até que alguém decidiu colocar ordem na casa. Aconteceu o golpe de Estado do Regime Militar (1964–1985). Escolas e universidades se transformaram em campos de batalhas, onde guerras sangrentas eram travadas: professores e estudantes presos, torturados e mortos. Voltamos ao marco zero. Os novos comandantes do barco “Educação” inverteram a rota por acreditarem que as propostas eram “comunizantes e subversivas”.
Cai a Ditadura Militar, ressurgem os movimentos pela redemocratização. Inovações de compromissos de emergência eram ostentados em nome de uma esperança que universalizasse o ensino e extirpasse o analfabetismo.
A era digital chegou como um temporal de informações e desinformações. E o professor continua no mesmo, pois a relação histórica entre Educação e aprendizagem não foi rompida para que a Educação promovesse o crescimento humano no espaço escolar, e a sociedade não evolui, porque a Educação busca um modelo pedagógico que delete os ranços, mas não tem audácia para desenvolver uma teoria pedagógica capaz de promover o desenvolvimento humano, a fim de que a formação fortaleça as bases do indivíduo e o projete como ser capaz de reorganizar a sociedade do conhecimento.
O sistema de ensino, por mais que capacite seus professores, esbarra nas dificuldades para educar uma geração criada pela televisão e educada por babás, na maioria das vezes analfabetas, refletindo as rupturas que salientam o colapso de autoridade dos pais. Favorecendo o hibridismo familiar, que cresceu tanto que o mercado de trabalho já instituiu a profissão “mãe de aluguel”, que substitui a biológica em quase tudo, e essa deficiência vem tornando o lar um ambiente cada vez mais artificial, carente de afeto, respeito e consideração pelo outro.
A partir de então, crianças chegam às escolas cada vez mais agressivas por estarem desprovidas de afeto, respeito pelo o outro, elevando a incapacidade para aprender por serem carentes de iniciativas, boas maneiras... Desprovidas de princípios, fazendo com que regras sejam quebradas pela imaturidade, pois aquela formação básica de valores morais, sociais e religiosos não existe mais, porque as mudanças tomaram uma dimensão que princípios se perderam nas crises existenciais entre pai, mãe, filhos e irmãos, desequilibrando as linhagens.
A relativização da verdade...
Não adianta dissimular, fazer de conta que a tempestade são ventos passageiros. Esses problemas sempre existiram... E é hora de professores, governo e sistema de ensino abrirem os olhos para assumirem a história, se situarem ante a crise e compreenderem que educar requer, muitas vezes, humildade para rever atitudes, determinação para inverter cursos... a própria história, principalmente a da Educação no Brasil, que desde a Era Colonial não sofreu grandes mudanças, apenas uma pequena ampliação de ótica pelo fato de que, na era digital, os problemas são mais expostos, questionados e estudados.
E, como lugar-comum não gera mudanças, a escola não tem outra responsabilidade além de aplicar conteúdos, e o professor tornou-se uma mera ferramenta já que aquela “não tá nem aí” com o ambiente de vida do seu aluno, para analisar o seu perfil social, a sua realidade econômica e, o mais importante, a sua estrutura familiar... Pois esse professor foi preparado na tradicionalíssima escola que teve como tendência “dê os seus pulos” se quiser ser alguém na vida.
Entre ficção e realidade, o sistema poda os meios que proporcionam estrutura e condições às escolas, como a ação pedagógica por meio de recursos capazes de promover o crescimento humano. E, por estar estagnado, intensifica os conflitos. Clamores se confundem com ira e se misturam com indignação, pois a ética, que propicia subsídios para que a cidadania impere, é asfixiada pela imposição política, e essa opressão vem se tornando a raiz de problemas que elevam barreiras, impedindo a escola de usar a autonomia, o mecanismo da democracia, para ensinar sem opressão. Pois o século XXI provocou a fusão de tudo: culturas, tradições, crenças, e já é tempo de o sistema preparar seus professores para disseminar valores.
Infelizmente, aos ouvidos do governo, os clamores dos professores são atendidos prontamente. Uma farsa ostentada com salsicha, extrato de tomate e pão; cadernos, lápis e livros transportados em veículos-outdoors que refletem, em cliques automáticos, flashes de uma tecnologia pós-moderna e têm como pano de fundo métodos ultrapassados.
Nesse horizonte de buscas, professores perdem a direção e clamam... Protestam... Reivindicam... Fazem paralisações... Transformam esse espaço num campo minado, um palco em que se desencadeiam batalhas intermináveis com o sistema e o governo.
Até onde podemos confiar na segurança da passagem delineada pela Educação?
Essa nova rota determinará o caminho a ser traçado, pois o novo milênio não alterou apenas o perfil das famílias, mas compactou o planeta com a força da tecnologia, fundindo culturas... gerando como fruto a Geração Alfa, que simplesmente vive o agora sem se preocupar em levantar a cabeça e contemplar o horizonte à sua frente.
Igualmente, por mais que se tenha transfigurado, as bases necessitam de restauração para que a trajetória da civilização humana, sempre sinalizada por exclusões e subalternidades, inverta o curso e enverede por um caminho que leve à paz por meio da boa convivência.
Os que antes eram ignorados, rejeitados — pessoas com deficiências, indígenas, mulheres, negros, homossexuais... — terão que ser benquistos, e não suportados, pois ganharam espaço, autonomia e direitos constitucionais exclusivos.
Os reflexos dessas mudanças já se ramificaram por todas as camadas e segmentos: pessoas portadoras de deficiências adquiriram ambientes específicos, quotas; os índios, mesmo com a lentidão dos órgãos competentes, vêm reconquistando suas terras, resgatando seus valores, exaltando suas culturas; as mulheres, antes sem voz, sem voto, granjearam força, consistência, minaram o capricho masculino e chegaram ao poder; os negros tiveram o reconhecimento, os seus gingados, a sua música, suas tradições, seus sabores... tornaram-se cultura, patrimônio da União; e os homossexuais saíram da zona de excluídos, onde eram socialmente cancelados e foram para a de exaltados, livres para serem, existirem.
Nesse duelo, a diversidade humana se expõe ao extremo nos confrontos para defenderem o respeito às diferenças, em nome de uma justiça — principalmente social — que é distribuída em porções que não promovem a inclusão.
Mas a geração do futuro é incansável e não desiste de lutar por independência. Independência cujo grito ecoa desde a década de 1990, quando as camadas oprimidas decidiram colocar “a boca no trombone”, permitindo que o sentimento de liberdade fluísse, ganhasse força e consistência.
Os primeiros frutos já são colhidos e refletem no crescimento da classe média graças ao trabalho da mulher que deixou de ser “motorista do lar” para se converter em fomentadora e gerenciadora do orçamento doméstico. Contudo, é preciso moralizar para que as barreiras da Educação no País não continuem favorecendo o crescimento dos índices da desaceleração.
Evolução humana... Os entraves...
As tempestades despencadas nas últimas décadas transfiguraram o cenário escolar de tal forma que espécies endêmicas como respeito, amor e tolerância entraram no frenético processo de extinção. Sua biosfera — a escola — se depara com dificuldades para cumprir o próprio calendário, pois a violência rasgou a cartilha e apresentou a constituição do “quem grita mais alto leva a melhor” como tendência do momento. E a escola, onde professor era reverenciado e respeitado, tornou-se o saco de pancada, a válvula de escape do desequilíbrio social, da desintegração dos valores familiares, que vem fazendo dos lares uma associação onde lutas sangrentas são travadas em nome do nada.
E, mesmo com os modernos métodos amparados pelas tecnologias, as faculdades não sabem o que fazer. Derramam chuvas de informações, e quatro anos não estão sendo suficientes para preparar os heróis a serem professores. E muitos aprendem essa lição ao assumirem uma sala de aula e aprendem usando os seus alunos como cobaias... Pois, assim como seus alunos, a sua geração não recebeu o kit básico de valores e chegou à faculdade completamente desprovida, pois em casa não teve nem ao menos os denodos básicos, como noções de honestidade e responsabilidade.
Ao se enveredarem pelos portões da escola, encontraram nos colegas o mesmo vazio, e, assim, o passar dos anos não mudou muita coisa. No desleixado processo educacional, apenas passou de ano e chegou à faculdade, entidade que perdeu terreno para os conflitos sociais e familiares e está inteiramente desintegrada, carente de valores — pois a sua responsabilidade se resume em letras e ciências —, e isso a torna promotora de um processo que exige cuidado para não assassinar a testemunha ocular — o aluno — e deixar mais um crime impune... Não consegue... Pois na conjugação dos universos Educação e necessidades humanas, família, governo e sociedade foram inadimplentes.
Tantos clamores, que transtornam o espaço escolar, fazem da escola um ponto de lamentações. E sem saber de onde partem tantos desalentos, perguntas se perdem no ar: Por que os nossos professores não ensinam bem? Falta de empenho das universidades? Má-formação da escola? Desapego ou carência de amor pela profissão?
Teoricamente falando, a Educação no Brasil apresentou avanços consideráveis graças à pressão internacional que ambiciona o desenvolvimento tecnológico, cultural, científico, social e econômico dos países. Tanta cobrança fez com que a Educação preenchesse apenas as agendas governamentais, que colocaram a “mão na massa” para apresentar números: investiram em tecnologia, abarrotaram as unidades de ensino com programas culturais, e o científico ganhou destaque nas universidades.
Mas olvidaram de criar mecanismos para reavaliar referenciais teóricos, procedimentos, principalmente avaliativos, não deram crédito ao crescimento econômico para educar para o amanhã e realmente trabalharam com afinco para que o nosso sistema seguisse linhas gerais onde pudesse ser traçado um gráfico preenchido por cifras irreais.
Em meio às buscas, experiências e fracassos, os fazedores de Educação não compreendem que desenvolver aptidões, na maioria das vezes, exige intervenções e medidas psicopedagógicas ativas; aperfeiçoar agilidades define caminhos específicos. Caminhos que devem ser esboçados com o cuidado e a responsabilidade de quem delineia a linha da vida, pois transformar comportamentos, para que a fronteira dessa vida não convirja para o abismo, requer envolvimento, cooperativismo e participação para que Educação e professores cheguem à sapiente descoberta de que a verdadeira arte de ensinar não consiste em dar aulas, mas em fazer do tempo e do espaço da sala de aula um atrativo lugar de transformações de vidas, e isso só acontece por meio de projetos, em que trabalhos e desafios se transformam na mola propulsora de educandos e professores que ambicionam converter conhecimentos em oportunidades de vida.
Desafios do professor para educar uma geração sem formação
Na fronteira dos tempos modernos, a Educação dos professores deve ser inspecionada, atualizada para ganharem ritmo e não se distanciarem da sucessão de mudanças provocadas pela globalização, que lançou nações no precipício das crises econômicas, sem computar as variações climáticas que transfiguraram a paisagem do planeta.
Tais fenômenos prenunciam contrafações comportamentais drásticas na próxima década, pois o afã da geração plugada determinará que muitos entrem temporariamente em stand by para recarregar a bateria, suavizar as crises psiquiátricas, se esquivar da depressão e das dependências de substâncias psicoativas que a humanidade terá que ter em mão.
Pois o humano, mesmo sendo fruto de um histórico processo evolutivo, não tem pique para acompanhar o ritmo das alterações, por ser geneticamente vulnerável. Sua aparente força camufla a fragilidade para arrostar o novo — mesmo previsível —, pois na última década as inovações foram instantâneas ao ponto de chegarem antes do amanhã.
Gerenciar conflitos, superar barreiras que se elevam fluentemente provocadas pelas evoluções sociais — que dificultam o ensino-aprendizagem —, é um dos desafios. Para superá-lo, o professor necessita de subsídios para fazer a diferença nesse espaço, onde os avanços tecnológicos, as influências da mídia, transformam comportamentos e determinam que os velhos paradigmas sejam reavaliados para permearem a inter-relação entre a Geração X — professor — e a Geração Alfa — aluno.
Entre os fogos cruzados, professores lamentam e clamam. Clamam por melhores salários, por melhores condições de trabalho... Por um plano de cargos e salários... Clamam tanto que o repertório se esgota e começam a clamar por Educação.
Clamam por uma Educação que não tiveram. Faltou-lhes o básico: a formação. Portanto, não sabem como ensinar para o futuro. Essa deficiência é a barreira que impede muitos de não chegarem ao nível de educador, pois o título de professor não lhes ofereceu contribuições para trabalhar com vidas que dependem de um direcionamento para formar a base do humano e enfrentar os desafios de um mundo cada vez mais competitivo. O educando não é um sujeito disforme, incolor e indolor. O educando é um indivíduo do conhecimento e é exatamente por ser sujeito que conduz culturas, tradições, valores, princípios, que o professor deve dominar os dispositivos que processam informações e dados em habilidades e adicioná-los às perspectivas cognitivas, contextos sociais, familiares e afetivos para compor um ensino à base de conhecimentos concretos.
Lugar-comum... Gênese do câncer educacional
Para encarar os anseios da Educação para, assim, acatar aos clamores de professores, é indispensável uma possante lente 3D para encarar a Educação em ângulos tridimensionais: vislumbrar um passado sem início — pois tudo é copiado — e entender um presente sem horizontes — devido a mudanças bruscas das tendências educacionais, que não têm tempo de amadurecer —, para inverter o curso de um futuro incerto — devido à deficiência de propostas —, a fim de, então, canalizar os alvos para um terreno que amplie os horizontes de vitória.
Como imagem é tudo, o governo adornou a escola com esplêndidos frontispícios, decorou-a com móveis contemporâneos, abarrotou-a de livros... Mas por que não funciona? Por que os investimentos não melhoram a qualidade do nosso ensino?
A resposta é simples: prédios amplos e modernos facilitam? Claro! Computador e internet? Também... Livros? São indispensáveis! Mas o magnetismo que faz girar o eixo para que as engrenagens do sistema funcionem é cognominado humano, especificamente da família dos “professores”, mas esses exemplares devem ter um diferencial, um quê a mais, que é o “saber” e o “querer fazer” a diferença.
Desrespeito ao professor... Um crime contra a vida
A elevação dos problemas sociais dificulta o processo ensino-aprendizagem. Nessa agitação, a vida do professor se torna tensa, abstrusa e reduz os seus horizontes, retardando a complexa arte de educar, por sobressair a face disforme de uma Educação que retrata degradação familiar: crianças e jovens mal-educados, agressivos, individualistas, possessivos... salientando a ruína de princípios sociorreligiosos-familiares através de gestos, atos e atitudes que dificultam uma formação com princípios éticos e morais.
Ante a deprimente realidade, tudo que o professor consegue é preencher o tempo com conteúdos evasivos, por se ver incapaz de gerar alternativas, pois a permissidade dos pais tira a autoridade do professor, a autonomia da escola, transformando o espaço num lugar cada vez mais estressante, onde a violência familiar, a carência afetiva e a deficiência de respeito se manifestam.
Dessa forma, fica cada vez mais difícil encarar os desafios de um mundo moderno, que acelera os passos para alcançar o futuro. E o nosso sistema? Rastejando, alheio aos fatos, com os olhos perdidos no nada... Sem a mínima estrutura para entrar no jogo de competitividade, pois tanto as escolas quanto as universidades entregam ao mercado de trabalho cidadãos semialfabetizados.
O governo bem que tenta. Fracassa. Tenta de novo e volta a fracassar. Concentra a mira na escolha da tendência. Erra o alvo... Num ato precipitado, corre contra o tempo e se perde no tempo, sem conseguir dar um passo adiante para sair da humilhante posição na América Latina. Uma vergonha para uma potência econômica.
Em meio ao fogo cruzado, alguém pergunta: “E o professor?”
Murmúrios anunciam: continuam lá... Tendo que fazer malabarismo para conter alunos ociosos, pais inadimplentes e gestores ditadores... Clamando por uma Educação que deveria chegar por meio de uma formação que fortalecesse as suas bases profissionais.
Essa deficiência de suporte e aporte faz a vida daqueles que necessitam de uma direção se perder pelos vácuos provocados por uma má-formação docente.
A injusta quebra de braço
Virou cultura e já está inserida na grade de emissoras de rádios e televisão. O governo interrompe a programação normal — invade lares com discursos brilhantes, imagens encantadoras, ressaltando, suas façanhas e ambições: adultos realizados, uma sociedade justa —, mas não investe, excepcionalmente, no artista que molda vidas: o professor. Nessa guerra desigual, o governo faz uso do poder, da força da máquina, para dominar e aciona o seu possante dispositivo “sistema de ensino”, para ostentá-lo.
O sistema toma mão da influência da mídia para disseminar, muitas vezes, hipocrisias, pois, na sua justa ótica, a Educação trilha o caminho do sucesso... Tão certo que subestima o potencial humano — o professor —, acreditando que físico e tecnológico são o suficiente para oferecer Educação de qualidade.
Não adianta se esquivar. Fazer de conta que tudo “vai bem, obrigado!”. A sentença já foi afirmada: a qualidade do nosso ensino só avançará a partir do instante em que os envolvidos no processo encararem a formação docente como item principal na promoção do crescimento humano em sala de aula.
Se o governo não habilitar esses profissionais para preencherem as falhas deixadas pelas universidades, podem-se alastrar chuvas de investimentos que o rendimento escolar continuará estagnado, mesmo com o salário chegando ao patamar ambicionado pela classe e a carga horária sendo ajustada.
É primordial a consciência de que crescer determina espaço, estrutura, horizontes... Qualidade é fruto de qualidade. Não se colhe bons frutos de uma má árvore, tampouco se conseguirá bons indivíduos de uma má matriz... A genética determinará o perfil da produção, e a nossa Educação é uma “espécie” geneticamente modificada que não vem se adaptando ao nosso clima.
A atuação adversa, de tão precisa, confunde, desnorteia ao ponto de lançar sociedade contra escola... Escola contra professor... Professor contra educando, pois o outro dispositivo indicado — o gestor — na maioria das vezes, em vez de buscar os propósitos da Educação, atende aos interesses do sistema que institui situações que originam problemas.
Sabemos que situações-problema são necessárias para que o educando se situe no próprio universo... Mas é preciso iniciativa, ousadia para inovar, construir para oferecer uma Educação nova, no seio de uma escola onde educandos possam experimentar o doce prazer em estar, o interesse de se envolverem no processo de aprender por serem ferramentas da própria metodologia, não imitações. Pois não bastam conteúdos nem recursos, é preciso desenvolver habilidades para que competências desobstruam caminhos para instituir oportunidades.
É preciso que o professor seja forte e preparado para ensinar sem embaraçar-se, nem obstruir o olhar dos que buscam horizontes para crescer. Para tal, é necessário excluir a profissão de professor que apenas cumpre calendário letivo e nomear educadores que trazem em si a ambição de ser o diferencial no espaço escolar, para satisfazer o anseio de cumprir a missão de ensinar.
Consciência todos temos. O que falta é família, governo e sistema assumirem suas responsabilidades. Pois todos ostentam que a Educação é o caminho da vitória; que escola é o espaço adequado para transformar o rústico em artista por meio dos mecanismos que desenvolvem habilidades e competências. Mas poucos assumem atitudes.
Para atender a esses clamores, é primordial preencher as reticências históricas da educação por meio de projetos condensados, e não programas sem fundamentos que contaminam todos os segmentos, principalmente o econômico, pois esse entrave abre o leque da ausência de mão de obra qualificada, intensificando o ritmo da desaceleração do crescimento do País. E, quando o crescimento se estagna, abduz-se do alvo a qualidade. E sem qualidade, restringem-se as probabilidades de entrarmos na disputa, pois a competição global decreta estrutura, preparação, e, enquanto a assiduidade escolar em nosso país for sinônimo de Bolsa Família, continuaremos excedendo os próprios recordes de repetências — que chega aos absurdos 14,1% —, em que o Brasil atingiu o maior índice dos últimos 12 anos, e o sonho de alcançar os investidores globais — Índia, Rússia e China — continuará estacionado pela ineficiência do sistema educacional, que se limitará em rechear as aposiopeses com números fictícios.
A situação é delicada. Poucos transitam por esse terreno e chegam ao pódio sem sofrer danos. A sentença do sistema é implacável, pois seus soldados estão estrategicamente posicionados e protegidos por seu eficiente exército de “apresentadores de dados” de um governo que se tornou exímio em utilizar números irretorquíveis para escapar das suas responsabilidades.
É hora de mudar o discurso, pois as falácias não asfixiam os alaridos: de um lado, professores clamam por Educação; do outro, Educação clama por professores comprometidos; e, no meio do fogo cruzado, completamente vulnerável, jaz o dependente educando, que clama por uma formação que amplie as suas chances de ser alguém por meio da Educação.
O novo tempo é agora. Se o sistema de Ensino tem pretensões de educar para a sustentabilidade num futuro que já bate à porta, esse é o momento de investir na qualidade da genética, para que essa semente possa germinar uma espécie resistente às intempéries do instável planeta “Sala de Aula”, que a cada dia tem a sua hereditariedade modificada: tio, professor, mestre... educador... Nessa longa caminhada na busca do profissional com domínio de competências para formar humanos em cidadãos ativos, muitas fórmulas foram experimentadas e sonhos interrompidos. Contudo, poucos caminhos foram abertos, pois a ineficiência das ferramentas do Sistema impediram inovações, conduzindo a Educação por veredas onde mudanças inovadoras ainda se limitam a aspirações.
Estamos “mal das pernas”, e pouco se tem feito para fortalecer uma classe que depende de reconhecimento, valorização e respeito para cumprir o encargo de formar cidadãos e tudo que fica é... “preciso”... É preciso ética... Para tratar o professor como profissional responsável pela edificação de vidas... É preciso formação... Para que o professor adquira consistência para enfrentar os desafios, as adversidades de uma sala de aula como auxílio na edificação do próprio universo... É preciso suporte... Para executar projetos que propiciem o crescimento humano... É preciso propósitos... Para que o Sistema de Ensino capacite o professor como base de um objetivo de transformação humana para que a escola, essa fantástica janela aberta para o mundo, seja o caminho que conduza à realização. É preciso responsabilidade... Investir no profissional, pois salário não é investimento, como livros, material didático, tecnologia, quadras de esportes... Não é capacitação nem condições de trabalho... É preciso investir no humano... Livros, material didático, recursos tecnológicos podem auxiliar. Bons salários motivam. Condições de trabalho são aporte... mas é preciso que o governo e o sistema assumam seus encargos e ofereçam uma Educação digna para manter aberta a porta que conduz à vitória — a escola —, mas com condições aos que fazem Educação e com atrativos aos que a buscam como base para construir sonhos... É preciso respeito pelo professor.
Contudo, um “preciso” não pode ser imêmore: é preciso que professor admita “que aprende” ou “que quer aprender?” Aprender é o meio mais fácil de aprimorar a prática. Pois clamar por Educação é cobiçar ser professor com estruturas para enfrentar desafios; usar sensibilidade para captar emoções, anseios... Ter atrevimento para buscar e descobrir que aprendendo se cresce, se aperfeiçoa; e, se aperfeiçoando; se ensina melhor. E, quando se ensina melhor, a escola, que se converteu num palco de conflitos e discórdias, conduzirá os confrontos para um terreno de discussões e entendimentos para transformar a guerra das diferenças em socialização, conflitos em crescimento humano, para que o prazer em estar seja lição, por meio de uma instituição capaz de fazer com que ciência e letras, ideologias e esperanças sejam a base do contínuo processo de crescimento pessoal.
Por isso, é preciso entender que a sala de aula é o ponto de manifestações humanas, de onde se exalam sentimentos, credos, culturas, tradições familiares, carências afetivas, violência... O “querer fazer” do professor só será a diferença se o “fazer” do Sistema — que tem autonomia para determinar o ponto de chegada — acontecer. Se o setor não tiver um alvo definido e mantiver o professor despreparado para esse propósito, dificilmente alcançará índices satisfatórios.
Afinal, ensinar é um artifício delicado e, como todo processo com o envolvimento de vidas, é preciso desenvolver aptidões, explorar talentos e aprimorar habilidades. Por ser um procedimento que exige práticas transversais, não se pode ter receitas prontas, algoritmos milagrosos nem modelos capazes de retificar ou rejeitar diferenças. Do contrário, a Educação será exclusiva, e a arte de ensinar perderá, definitivamente, o seu fascínio. Para tal, é preciso oferecer a Educação do respeito e da valorização profissional, da participação familiar e da escola, do envolvimento atuante e consciente da mídia, para que aconteça a tão ambicionada descoberta da pessoa humana num espaço que atrai milhares em busca do sonho maior: ser feliz.
Direto do site da revista "Construir Notícias", acessado em 1º de outubro de 2012.
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