agosto 02, 2009

SECAS E SAQUES : A QUEM SERVEM OS TRIBUTOS ?


Por Maria de Lourdes da Silva



A falta de vontade política, a gerência do bem público em benefício dos próprios interesses e privilégios, a impunidade, a corrupção... sinônimos! Marcas e características de governos que se sucedem no Brasil e principalmente no nordeste, um após o outro, mantendo no poder as antigas oligarquias rurais, os descendentes dos coronéis (ou seus afilhados), os mandatários de sempre.

Governam em nome de seus bois , de seus latifúndios, de suas mansões com piscinas olímpicas (e enquanto se banham nelas, na casa do trabalhador não tem água nem pra tomar banho) e de seus filhos e netos. São os donos das rádios, das transmissoras de TV, dos jornais. Mantêm o povo ali, na pobreza, na necessidade, na miséria, precisando de seus favores, dependendo do seu humor. Alimentam a indústria da fome e refestelam-se em jantares suntuosos. Estimulam a doença, com precariedade no atendimento médico e são parceiros dos grandes laboratórios. Vendem água! A vileza desmedida à solta, a malvadeza e a crueldade correndo livres... O sertanejo sufoca!

Na Antiguidade clássica a aristocracia greco-romana vivia e sobrevivia do trabalho escravo e dos impostos cobrados ao povo; na Idade Média, novamente na Europa, os servos não usavam nem roupas de baixo, a falta de higiene proliferava, trazendo epidemias como a peste negra e outras, mas já eram altos os impostos cobrados ao povo; no Brasil a derrama provocou a indignação de Tiradentes, entre outros, levando-o a ter o corpo esquartejado e distribuído por cidades, como prova do poder daquele que cobrava impostos; Canudos, a terra onde corria um rio de leite e havia um morro de cuscuz, foi palco de um genocídio patrocinado pela República brasileira, quando mais de 30.000 (trinta mil) pessoas foram assassinadas pelo governo, pelo cobrador de impostos...

No Brasil atual ainda morrem pessoas nas filas dos hospitais do SUS, ainda temos escolas muito carentes de recursos e vivemos na Idade das Trevas na educação (enquanto nossos alunos chegam com MP4, MP5, MP10, entendem de montagem de computadores e quiçá programas!!! Muitos professores não dominam linguagem da informática, os computadores nas escolas quase não são usados, muitos colégios ainda estão no cuspe e giz e ainda temos crianças fora da sala de aula) um baixo índice de desenvolvimento humano, analfabetos, indigentes... e há pequenos, médios e mega empresários que sonegam impostos, têm lojas no comércio, no centro da cidade, sem nem sequer uma máquina registradora que imprima um cupom fiscal... Álibi perfeito: se não sonegar os políticos vão roubar!!! O importante é que, de um jeito ou de outro, alguém está roubando o povo!
Entre nós é cultural chamar aquelas pessoas que reivindicam seus direitos de cidadãs de “briguentas” ou “encrenqueiras”, seja cobrando notas fiscais, seja exigindo seus direitos; nossa sociedade acostumou-se a não tratá-las bem, isto é, a vítima torna-se instrumento do próprio carrasco, não se reconhecendo como produtora daquela riqueza...

Ferido para além dos limites da sua dignidade, maculada na alma a crença que deposita no ser humano, ratazanas, calangos e lagartixas como alternativas para alimentação de seus filhos (enquanto os ricos jogam comida fora e alimentam cachorros ferozes com carne vermelha, diante da Morte, diante da desgraça de outrem), frente à extrema pobreza que se lhe depara, esse “forte” reage com o desespero. Ele saqueia mercados, caminhões, armazéns do governo cheios de cestas básicas! Ele saqueia, toma, apodera-se (do alheio ou do que lhe pertence de fato?) e vai alimentar suas crias.

Agora ele quer de volta cada grão de arroz e de feijão que lhe foi usurpado, cada filhinho que foi obrigado a enterrar na terra rachada e quente, manchada do sangue dos inocentes.
E chora, copiosa e silenciosamente, por causa da prepotência, da ganância, da vaidade de tão poucos, que conseguem ser os donos de tudo que é seu.