dezembro 02, 2011

Extensão universitária - Brevíssima reflexão

Extensão é uma forma de agir que aproxima a academia do povo, que une intelectuais e pessoas comuns, que funde saber pensar e saber fazer num elemento chamado solidariedade, participação efetiva nos destinos de um povo.  Este é o papel da universidade!  Quando ela se distancia e  recorta a realidade como se fossem estanques seus pedaços, suas facetas, ela se descompromete, envaidecida em suas teorias ela se alimenta do nada e nada faz. 

A LEI



Quanto mais me aproximo da Lei e a conheço, mais me decepciono com ela. Desiludo-me. Que bom! É melhor não estar iludida.

A Lei que rege a sociedade brasileira é, em várias instâncias e nas mais diversas linhas de pensamento, elitista, excludente, venal.

Vós que fazeis as leis, com quem tendes estado comprometidos, senão com vosso próprio luxo e vaidade? Tendes alimentado e fortalecido o abismo entre as classes sociais, criando prisões onde encarcerais o povo atrás de grades imundas, em lugares obscuros e sombrios onde campeia a morte, a traição, o temor e o medo. Tudo isto para que vos possais manter ricos e poderosos. Donos. Proprietários. Tudo isto pelo dinheiro, um pedaço de papel que criastes para iludir os fracos e fortalecer-vos na arte da tirania e do domínio.

Muitos de vós estais retos na conduta e a duras penas conseguis sobreviver entre as víboras.

Acreditais mais em serdes “espertos” do que em serdes sábios.

Considerai com mais estima os que vos propiciam propinas a aqueles que vos servem diariamente.

Diariamente ousais cinicamente sacudir na cara do pobre seu luxo, suas roupas, seus sapatos, carros modernos e perfumes, com suas propagandas caras, criativas, subliminares. Diariamente os perturbais a todos, invadindo suas casas (suas – de quem?), seu espaço privado, para chamares atenção sobre vós e o que vendeis; mas o dinheiro a mais com que ficastes para então construirdes vossas mansões luxuosas, vossas piscinas, vossos jardins particulares, vossas festas, vossas orgias, é justamente o que falta a aquele outro que agora, por desejar tudo que tendes, encontra-se privado da liberdade.

Sois os verdadeiros ladrões, mas forjais inocência e entregai outros para o sacrifício.

Preferis construir mais presídios e fortalezas a dividir vossa riqueza! Se o fizerdes, continuareis ricos. Sereis mais ricos ainda se a dividirdes, pois a violência se acalmará, a fome cessará, a miséria desaparecerá, não haverá mais crianças dormindo nas ruas e nem loucos ao sereno da madrugada. Poder-se-á tirar as grades das casas e viver em paz.

A tecnologia, a informática, a nanotecnologia trouxeram muita riqueza para poucos e muito lixo para o planeta inteiro. Estão comprometidas várias espécies de animais, o meio-ambiente está totalmente desequilibrado, as cidades desabando, mas continuais a defender o progresso e o desenvolvimento. O óleo vaza em mares e oceanos, matando aves e peixes incontavelmente, mas continuais defendendo a extração de petróleo e suas refinarias. Quantas vidas os veículos automotores ceifam por ano? Por dia? Por minuto – já que vos afeiçoais tanto às estatísticas? Mas insistis em adquirí-los, ainda que por sobre cadáveres de tantas famílias que vêm a óbito a um só tempo, abatidos em sacrifício em nome do deus dinheiro, vosso deus poder.

E enquanto povo e polícia se matam uns aos outros, em guerras que servem aos interesses escusos que motivam vossas ações, brincais confortavelmente em suas mansões luxuosas.

Preferis matá-lo que dividir a riqueza. Preferis enterrá-lo que devolver-lhe a terra. Preferis abandoná-lo ao relento – homens , mulheres e crianças - a dividir com eles um dos muitos tetos que possuís. Preferis mantê-lo analfabeto para assim melhor poderes manipulá-lo.

Forjais guerras entre as nações, povos têm se lançado uns contra outros e enquanto isso projetais e mandais construir armas genocidas. Tendes pregado o ódio, não o amor, tendes distribuído armas, vossas noticiam cheiram a sangue, enfatizam o crime.

A cultura, o teatro, a filosofia e a lei permanecem reféns de vossa vaidade, não quereis dividi-las. Dominá-las é sinal de poder.





setembro 20, 2011

Enfrentar a crise mundial impulsionando o desenvolvimento nacional





A grande crise do capitalismo iniciada em 2007-2008 continua regendo a dinâmica econômica, financeira, social e política do mundo. Depois de uma anêmica recuperação no ano passado – que levou os ideólogos do status quo a proclamarem a superação daquele grande abalo –, a economia mundial, em 2011, caiu numa recidiva e a crise vive, agora, sua segunda fase aguda.

Em 2008, com o simbolismo da falência do banco de investimentos Lehman Brothers, deflagrou-se um efeito dominó de quebradeiras cujo apogeu foi em 2009. Faliram grandes bancos, seguradoras e, também, robustas empresas do setor produtivo por conta das gigantescas operações especulativas de derivativos oriundos da regra-mor do neoliberalismo: a desregulamentação e liberalização dos mercados. Desde então, os Estados dos países do centro capitalista tiveram de injetar trilhões de dólares para socorrer e salvar grandes monopólios e o sistema financeiro privado.

A segunda fase aguda da crise 


Longe de os riscos se dissiparem, agora em 2011 a situação se agravou. Está a todo vapor a segunda fase aguda da crise cujo epicentro é o denominado “primeiro mundo”, o centro do sistema, formado pelas grandes potências capitalistas. No presente, a diferença é o fato de essa crise – além de persistir nos Estados Unidos da América – se agravar na União Europeia e Japão. A Europa, em particular, é duramente castigada. Inicialmente foram afetados os países da periferia da Zona do Euro, agora, foram golpeadas a Itália e a Espanha.

As manifestações dessa atual etapa da crise são: elevada dívida pública dos Estados Unidos e dos países da União Europeia; desaceleração da economia do centro capitalista, estagnação e risco de recessão global; onda sucessiva de inadimplências; instabilidade e enfraquecimento do dólar; guerra cambial e protecionismo econômico; desemprego crescente e aumento da exploração sobre os trabalhadores. A margem de manobra deste conturbado centro capitalista restringiu-se. Na esfera dos juros, suas taxas já beiram a marca do zero; no plano dos investimentos, eles têm dificuldades, pois os Estados se endividaram para socorrer a quebradeira do setor privado. Esta transferência significa que tesouros e bancos centrais de todo o mundo já gastaram US$ 12,4 trilhões até agosto último. 

A análise marxista inscreve essa crise como uma das três maiores já enfrentadas pelo capitalismo, fato que agrava seus paradoxos e contradições. Contudo, as crises fazem parte dos ciclos do capital e, independentemente de suas intensidades, o capitalismo não se destrói por si mesmo. Se não for confrontado por alternativas distintas, que abram um novo ciclo político e econômico, que leve a rupturas do sistema, ele encontra sempre saídas, provocando maiores desastres econômicos, sociais e políticos, para prosseguir com seu processo de expansão. 

Ultraliberais continuam no comando político


O neoliberalismo, embora desmoralizado pelo fracasso, recrudesceu no centro capitalista. A lógica de Wall Street, isto é do rentismo, permanece hegemônica. As promessas de alguma regulação do sistema financeiro não passaram de procedimentos cosméticos, não interferindo na mudança da sua natureza. Os ultraliberais responsáveis pela crise continuam à frente do comando político de grandes potências. Nos EUA, Obama se curvou à onda neoconservadora, e os setores mais reacionários do país – como o Tea Party – ganham força. Exigem mais absolutismo do mercado. Do outro lado do Atlântico, no Velho Mundo, a direita domina o cenário político, inclusive com o inchaço de bolsões neonazistas.

Essa hegemonia condiciona fortemente as tendências, os desdobramentos e possíveis cenários decorrentes do atual quadro. Embora na Europa e, no Oriente Médio, haja descontentamento e revoltas sociais, o que prevalece até o momento é a ausência de uma alternativa política condutora do campo patriótico, democrático e progressista. Só forças políticas novas, orientadas por concepções e projetos alternativos aos paradigmas neoliberais, podem enfrentar, romper e superar a lógica liberal reinante.

Ganha velocidade a transição no sistema de poder mundial

Todavia, dialeticamente, em função da profundidade da crise no centro do sistema, como aspecto alentador e progressista, ganha velocidade a transição que se opera no sistema econômico e político internacional. A crise acelera o já constatado declínio progressivo e relativo da hegemonia do imperialismo estadunidense e, simultaneamente, cresce o papel da República Popular da China – país socialista –, pela pujança da sua economia (2º PIB mundial) e sua ascendente influência geopolítica. 

Embora também sofra os efeitos danosos da crise, a chamada periferia do sistema capitalista – notadamente, Índia, Rússia, Brasil, África do Sul e a já citada China – enfrenta-a com resultados favoráveis ao crescimento econômico. Sinal dos novos tempos é o fato de os países componentes do BRICs anunciarem que vão debater formas de ajudar a União Europeia a enfrentar a crise econômica. 

Sublinhe-se que na América Latina se mantém e até se amplia o leque de países governados por lideranças e blocos de forças que lutam pelo desenvolvimento soberano e democrático. Vai ficando para trás a supremacia unipolar dos EUA e cresce a tendência a um mundo multipolar. Todavia, é preciso sublinhar que o declínio de uma supremacia imperialista hegemônica mundial não transcorre de modo pacifico e poderá se estender por longo período histórico, devido ao fato de ainda ser uma potência militar, econômica e tecnológica, além da influência ideológica que exerce no planeta por inteiro. 

Resultante disso temos um cenário internacional contaminado pela instabilidade, ameaças e pelo risco de grandes perigos. As guerras de ocupação contra o Afeganistão, o Iraque e, agora, a intervenção ostensiva da OTAN na Líbia e as ameaças de intervenção contra a Síria, sob a falsa defesa da democracia e dos direitos humanos, demonstram que os EUA poderão recorrer cada vez mais às armas, visto que ostenta de longe a condição de maior potência bélica.

Crise exige audácia do Brasil


Neste contexto – em que as grandes potências tentam lançar o ônus da crise sobre os ombros dos trabalhadores e buscam aumentar o saque sobre os demais países – é que se exige mais audácia política e independência das nações da chamada periferia do sistema, como é caso do Brasil. Assim agiu Getúlio Vargas na grande crise de 1929-1930. E, do mesmo modo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva na primeira fase aguda da crise, em 2008. Na atualidade, o país já recebe os impactos da crise. 

Constata-se a desaceleração de seu crescimento econômico, com suas conseqüências, como a queda da oferta de postos de trabalho e retração da atividade industrial. O governo Dilma, como será demonstrado a seguir, reage e adota medidas em defesa do país. 

A presidente Dilma firma sua autoridade e liderança


Quando esta segunda fase da crise acossa e atinge o Brasil, um fato relevante vai se impondo na realidade brasileira: a presidente Dilma Rousseff firma sua liderança e autoridade em relação tanto à sua base política, partidária e social, quanto ao povo de quem recebe amplo apoio.

Esta afirmação da presidente e de seu governo decorre de três fatores principais. Primeiro, ela enfrenta com vigor as pressões da oposição e de seu poderoso braço midiático no sentido de ditar ao governo a agenda prioritária – que para isso manipulam a justa e necessária bandeira de combate à corrupção, para incompatibilizar a presidente com sua base política de apoio. Estratagema que ficou massificado com o bordão da “faxina”. 

Dilma reagiu, demonstrando de modo prático que o combate à corrupção é uma questão de princípios. “A “faxina” é realizada no dia a dia, combatendo as práticas criminosas, os corruptos e corruptores toda vez que se apresentem. Para tal é preciso continuar qualificando o Estado para ele a um só tempo exercer seu papel empreendedor e suas ações vigorosas em defesa do patrimônio público. Todavia, a pauta que deve reger o país, proclama Dilma, é a do desenvolvimento, distribuição de renda e erradicação da pobreza. Esta é a prioridade.

A liderança de Dilma também se eleva à medida que seu governo empreende a defesa crescente do Brasil e de sua economia ante a recidiva da crise. De início, lançou o Programa Brasil Sem Miséria, que pretende retirar 16 milhões de brasileiros da extrema pobreza; depois, o Plano Brasil Maior, um elenco de medidas visando a defender e impulsionar a indústria nacional, vitimada pela política cambial e problemas estruturais, como a defasagem tecnológica. Movimenta-se para melhorar a qualidade do Sistema Único de Saúde (SUS) buscando fontes de mais recursos e a regulamentação da Emenda 29. Também persegue o objetivo de uma educação pública e de qualidade para todos os brasileiros. Progressivamente, vão se delineando e se ampliando, como se verá, as linhas de enfrentamento da crise e de defesa do país. Nesta dinâmica, a presidente dialoga e se aproxima mais de sua base política e partidária e interage com as entidades e lideranças do movimento social e sindical.

Acontecimento promissor: a redução dos juros

Acontecimento impactante e promissor que abre boas perspectivas é a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) – adotada no último 31 de agosto – de reduzir de 12,5% para 12% a taxa básica de juros, a Selic. Essa redução visa manter o crescimento do país e se deu na contramão das expectativas do mercado financeiro, que reagiu com seu poder de fogo. O governo retira o ensinamento de 2008, quando, em pleno momento agudo da crise, o Banco Central (BC) ainda aumentava os juros, levando à recessão em 2009. 

A presidente Dilma empreende um movimento que afronta a concepção neoliberal: ela promove uma ação sincronizada entre o Ministério da Fazenda e o Banco Central, entrelaça a política fiscal com a política monetária com o fito de promover uma queda sequenciada dos juros e manter sob controle a inflação, e tenta conter a onda corrosiva que vem de fora, lutando por metas de crescimento e de geração de empregos.

Seu objetivo explicitado é de até 2014 livrar o país da condição absurda de ser campeão mundial dos juros altos, reduzindo a taxa real ao patamar dos índices internacionais. Simultaneamente, o governo busca livrar o Brasil de outra algema: atua para desatrelar a dívida pública da Selic. Atualmente, 30% das Letras Financeiras do Tesouro (LFT) são corrigidas por ela. Estes títulos prejudicam a ação do Banco Central sobre os juros e premiam os rentistas com ganhos sem risco algum. Tais iniciativas do governo Dilma expressam uma importante vitória política nesta fase decisiva de seu mandato.

No horizonte: a possibilidade de um novo pacto político e mudanças na macroeconomia


A luta pela redução dos juros e pela desindexação da dívida pública instaurou uma batalha política e de ideias, mais de fundo. A reação agressiva dos círculos dominantes financeiros e de seus agentes deriva de tais medidas abrirem caminho para uma mudança da atual política macroeconômica. Ela surgiu concomitantemente ao Plano Real, em 1994. O país vivia sob uma torrente inflacionária, circunstância na qual os banqueiros e as camadas ricas da sociedade ganhavam somas fabulosas com a especulação, e a maioria do povo tinha seus salários engolidos pela desvalorização cotidiana da moeda. 

Houve, então, um acordo tácito entre aqueles que dirigiam o Estado brasileiro e os círculos financeiros mais poderosos. A estabilidade da moeda nasceu com uma salvaguarda para os ganhos dos credores, banqueiros e especuladores: as estratosféricas taxas de juros. Ao mesmo tempo, elas representam um pesado ônus fiscal para a maioria da Nação, um obstáculo ao desenvolvimento pleno nacional.

Mas a crise, dialeticamente, cria a oportunidade de substituição daquele referido arranjo conservador entre o Estado e os círculos financeiros dominantes por um pacto político novo, hegemonicamente constituído pelos trabalhadores e o setor produtivo empresarial nacional. 
Este pacto pode ser o alicerce para a realização de um conjunto de objetivos mais ousados e presentes no compromisso da presidente Dilma de conduzir o Brasil para um estágio mais avançado de seu desenvolvimento. 

Este novo pacto político se forjará na luta por grandes bandeiras unificadoras de maiorias políticas e sociais. O protagonismo do povo e dos trabalhadores, de seus movimentos e jornadas, com a autonomia de suas entidades, é indispensável para estimular e instigar o governo a realizar as reformas democráticas estruturais, e sustentá-lo nessa direção. 

Nesse sentido é preciso dar prosseguimento ao empenho que têm produzido, nos últimos meses, importantes mobilizações dos trabalhadores e da juventude, entre as quais se destacam a manifestação dos 80 mil trabalhadores na cidade de São Paulo, organizada pela quase totalidade das centrais sindicais; a Marcha das Margaridas com cerca de 70 mil camponesas; e a passeata dos estudantes, por mais recursos para a educação, liderada pela 
UNE e pelas UBES, ambas em Brasília.

Na visão do PCdoB, na atualidade, esta é a tarefa principal das forças progressistas e populares, em especial da esquerda: impulsionar o governo a liderar a conformação desse novo pacto político capaz de empreender avanços estruturais no país e municiá-lo das medidas apropriadas para o enfrentamento da crise econômica e financeira, como a queda progressiva dos juros, a desindexação da dívida pública da taxa Selic, a adoção de métodos e expedientes que garantam um câmbio competitivo, aumento contínuo dos investimentos, da geração de empregos e da distribuição da renda.

Nesse sentido, cabe ao Partido se empenhar pela realização das seguintes tarefas:

1) Impulsionar o governo a aproveitar a janela de oportunidade aberta pela crise para fazer avançar o Projeto Nacional de Desenvolvimento. Fortalecer a autoridade política da presidente Dilma Rousseff no enfrentamento das consequências da crise mundial sobre o país e para que seu governo venha a liderar a formação de um novo pacto político e social que proporcione ao Brasil avanços estruturais e históricos, como a mudança da política macroeconômica. Para isso, é preciso unir a base política do governo, contar com a mobilização e a luta do povo e realizar as reformas democráticas estruturais. Entre elas, uma reforma política que amplie a democracia, fortaleça o pluralismo e os partidos e combata a corrupção com o fim do financiamento privado das campanhas e adoção do financiamento público exclusivo.

2) Defender o Brasil, e a sua economia, ante os efeitos da crise. Lutar pela redução seqüencial dos juros bancários e da taxa básica, a Selic. Apoiar o objetivo do governo de até 2014 fixar os juros no patamar médio internacional e de igual modo respaldar sua decisão de desindexar progressivamente a dívida pública da taxa Selic no menor tempo possível. Alterar a política cambial, compatibilizando-a com os interesses da produção nacional. Ampliar as normas e medidas que restrinjam o livre fluxo de capital especulativo no país. Empenhar-se para elevar a taxa de investimentos, pelo menos ao marco de 25% do PIB, sendo que os investimentos públicos devem ser ampliados e aplicados em áreas e programas estratégicos do projeto nacional. Aprofundar as medidas constantes do Plano Brasil Maior para ampliar os investimentos na inovação e no aumento da competitividade industrial, perseguindo o objetivo de estruturação de um parque industrial moderno, de alta produtividade. Impulsionar, atualizar e alocar os investimentos necessários para a implementação do Plano da Amazônia Sustentável. Gerar empregos, distribuir renda e valorizar o trabalho.

No curso desse conjunto de medidas e metas, abrir caminho para a mudança da política macroeconômica. No plano internacional, dar continuidade à política externa altiva, de afirmação da soberania nacional, de condenação das guerras imperialistas e de defesa da paz mundial; à participação destacada nas articulações de países em desenvolvimento por soluções que resguardem o direito ao desenvolvimento soberano das nações, defendendo-as da crise mundial; intensificar o processo de integração solidária dos países da América Latina, sobretudo na presente conjuntura, através de medidas convergentes para defesa da economia da região diante do recrudescimento da crise capitalista. Noutro plano, são necessários esforços para oferecer ao coletivo militante espaços e oportunidades para melhor capacitá-lo na compreensão da dimensão da crise e de sua participação na luta de ideias em curso.

3) Apoiar e estimular as lutas e mobilizações do povo e dos trabalhadores, como foram as exitosas jornadas de lutas dos estudantes, a marcha das Margaridas e a marcha dos trabalhadores, todas realizadas no último período. Para isso devemos seguir fortalecendo os espaços de articulação unitária, especialmente a Coordenação dos Movimentos Sociais (CMS) e o Fórum das Centrais Sindicais, e reforçar a constituição ou consolidação dos fóruns estaduais do movimento social do Partido. Merece, neste momento, especial atenção a luta por mais recursos para a saúde pública, para a construção de moradias dignas para o povo, a defesa da jornada semanal de trabalho de 40 horas, além da batalha pela aplicação de 10% do PIB para a educação pública. É importante que todas estas bandeiras e jornadas de luta estejam associadas à pauta nacional, elevando a participação política dos trabalhadores e do movimento social como um todo.

4) Prosseguir com o trabalho de fortalecimento do Partido, com sua expansão, estruturação e organização desde as bases e com todo o empenho para garantir seu plano político eleitoral para 2012 com a eleição de prefeitos, vices e aumento de sua representação nas Câmaras Municipais. Intensificar a filiação de lideranças. Posicionar e construir as pré-candidaturas majoritárias do Partido, em especial nas capitais e maiores cidades, com a conquista de aliados e ampliação do apoio político para elas. Empreender o diálogo e as negociações que resultem na participação do Partido em chapas majoritárias, com candidaturas de aliados e amigos. Formação de chapas próprias de vereadores, e onde não for possível garantir as coligações proporcionais. Fortalecer a base econômico-financeira do Partido para responder às exigências crescentes de sua atividade. No processo das conferências em andamento, eleger e formar direções à altura dos desafios do curso político e aprofundar a aplicação das orientações do 7º Encontro sobre Questões de Partido para maior vida partidária desde a base.

5) Aplicar massiva e extensivamente o Curso do Programa Socialista (CPS) junto ao conjunto da militância, em especial aos militantes de base e intermediários. Imprimir a esta tarefa um ritmo de campanha no período de outubro até maio do ano próximo, como uma primeira etapa. Os Comitês Estaduais em conjunto com os Municipais devem planejar e executar esse movimento que pode representar uma grande iniciativa para formar e organizar as bases militantes e preparar o Partido para uma participação exitosa nas mobilizações e lutas do povo e nas eleições do ano próximo.

São Paulo, 18 de setembro de 2011
Comitê Central do Partido Comunista do Brasil (PCdoB)

setembro 08, 2011

Este vídeo é uma contribuição para o CONCURSO INTERNACIONAL DE VÍDEOS ONLINE DE CACAU E CHOCOLATE pelo Goethe- Instituto de Salvador-Bahia. Vote para este vídeo entre os dias 8 e 30 Setembro 2011 no site da competição: www.goethe.de/cacau-competitiva

setembro 06, 2011

48h para salvar a Ficha Limpa


Date: Tue, 6 Sep 2011 12:24:07 -0400
From: avaaz@avaaz.org
Subject: 48h para salvar a Ficha Limpa
To: diacui_pataxo@hotmail.com

Avaaz.org - The World in Action Caros amigos,



A Ficha Limpa está em perigo -- o STF pode julgar a lei inconstitucional e dar margem para que centenas de políticos condenados se candidatem às eleições. A corte está dividida, mas em breve a Presidente Dilma irá nomear um novo Ministro que terá o voto decisório -- vamos fazer um apelo urgente para que ela escolha alguém que seja um campeão contra corrupção! Mobilize-se agora!

Nossa querida Ficha Limpa está em perigo -- o STF pode julgar a lei inconstitucional e dar margem para que centenas de políticos condenados se candidatem às eleições. Mas a Presidente Dilma pode salvar a lei escolhendo um novo Ministro que seja contra a corrupção.

A corte está dividida, mas esse novo Ministro vai ter o voto decisório. Políticos corruptos estão fazendo pressão por um Ministro que seja contra a Ficha Limpa. Mas nós já derrotamos esses políticos sujos uma vez -- nosso movimento, que vem do povo, forçou o Congresso a aprovar a Ficha Limpa contra sua vontade. Podemos fazer isso novamente esta semana se nos mobilizarmos em massa e fizermos um apelo à Dilma para que ela escolha um candidato forte.

A Presidente Dilma se comprometeu em lutar contra a corrupção. Vamos fazer desse dia 7 de setembro o Dia da Independência da Corrupção. Assine essa petição urgente e, em seguida, encaminhe para todos -- a petição será entregue diretamente aos conselheiros da Dilma, e apoiadores da Ficha Limpa serão representados em banners nas marchas que acontecerão no Dia da Independência em São Paulo e Brasília:

http://www.avaaz.org/po/ficha_limpa_under_threat_/?vl

Fizemos grandes avanços ao empurrar a Ficha Limpa para dentro do Congresso e limpar a política da nossa nação -- mas a luta ainda não acabou. Políticos poderosos, incluindo a base aliada da Presidente, estão preocupados que eleições limpas irão tirá-los do poder e estão fazendo um forte lobby para que a Dilma proteja seus interesses.

Especialistas em lei, incluindo o Procurador-Geral da República, afirmam que a Ficha Limpa é totalmente compatível com a Constituição, e que os políticos da nossa nação devem manter um alto padrão ético. Mas, na semana passada, testemunhamos outro exemplo revoltante de impunidade no Brasil quando Jaqueline Roriz, uma política corrupta que foi filmada aceitando dinheiro de propina, foi absolvida por um comitê na Câmara dos Deputados. Se a Ficha Limpa for derrubada, políticos como Roriz poderão ser candidatos nas próximas eleições.

A próxima sessão do STF vai julgar três ações de constitucionalidade da Ficha Limpa, mas os ministros somente se reunirão quando a Dilma substituir a Ministra Ellen Gracie, uma forte defensora da Ficha Limpa que se aposentou recentemente. O STF está dividido ao meio sobre a decisão, por isso a nomeação iminente da Dilma é crucial.

Esta semana, ao celebrarmos a independência da nossa nação, vamos apelar à Dilma que garanta nossa liberdade da corrupção. Todos nós trouxemos a Ficha Limpa até aqui, vamos dar os últimos passos fundamentais para defender essa lei e limpar a política brasileira de uma vez por todas. Assine a petição urgente agora:

http://www.avaaz.org/po/ficha_limpa_under_threat_/?vl

Juntos, o poder do povo derrotou as tentativas dos políticos corruptos de pararem a Ficha Limpa no Congresso quando todos diziam que isso era impossível. A cada passo, nosso movimento respondeu de maneiras criativas e com pressão pública -- vamos superar esses últimos obstáculos e construir um sistema limpo e justo que proteja os interesses de todos os brasileiros.

Com esperança e determinação,

Stephanie, Diego, Caroline, Morgan, Alice, Ricken e toda a equipe da Avaaz

Mais informações:

Ficha Limpa corre o risco de perder a validade (A Gazeta)
http://gazetaonline.globo.com/_conteudo/2011/08/noticias/a_gazeta/politica/947962-ficha-limpa-corre-risco-de-perder-a-validade.html

Supremo põe lei da Ficha Limpa na corda bamba (Estadão)
http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,supremo-poe-lei-da-ficha-limpa-na-corda-bamba,765367,0.htm

Ficha Limpa poderá perder a validade (O Povo Online)
http://www.opovo.com.br/app/opovo/politica/2011/08/29/noticiapoliticajornal,2288101/ficha-limpa-podera-perder-a-validade.shtml

Procurador-geral defende constitucionalidade da Ficha Limpa (Folha de S. Paulo)
http://www1.folha.uol.com.br/poder/965963-procurador-geral-defende-constitucionalidade-da-ficha-limpa.shtml

Movimento que coletou assinaturas para a Lei da Ficha Limpa lamenta absolvição de Jaqueline Roriz (O Globo)
http://oglobo.globo.com/pais/mat/2011/08/31/movimento-que-coletou-assinaturas-para-lei-da-ficha-limpa-lamenta-absolvicao-de-jaqueline-roriz-925264984.asp


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julho 11, 2011

As Duas Fridas (1939) - Frida Kahlo


Autor: Edevânio Francisconi Arceno

AS DUAS FRIDAS (1939)

FRIDA KAHLO

Edevânio Francisconi Arceno
Prof.ª Regina Küster Moraes
Curso de Pós-Graduação em História Cultural – AUPEX
História e Artes Visuais
16/09/09
http://1.bp.blogspot.com/_FZsBYyXgvEA/SiRLlhdsNyI/AAAAAAAAA9E/pyvUVT347w0/s400/Frida_AsDuasFridas.jpg
Las dos Fridas, 1939.  ( As duas Fridas )
Lienza em óleo 173,5 X 173 cm. ( Tira de pano = Tela em Óleo)

 "pensavam que eu era uma surrealista, mas eu não era. Nunca pintei sonhos. Pintava a minha própria realidade[1]”. (Kahlo, Frida. O diário de Frida Kahlo: p. 287).
Filha do fotógrafo judeu-alemão Guillermo Kahlo e de Matilde Calderón e Gonzalez, uma mestiça mexicana, Magdalena Carmen Frida Kahlo y Calderón nasceu no dia 6 de julho de 1907 em Coyoacán, na Cidade do México. Em 1914 sofre de poliomielite. Em 1922, na escola onde estuda, conhece Diego Rivera, que lá estivera pintando um mural. Em 1925 estuda pintura com o pintor comercial Fernando Fernández, amigo de seu pai. No mesmo ano, em 17 de setembro, ao retornar da escola sofre um acidente de trânsito no qual quebra a bacia e a coluna dorsal, além de graves ferimentos. Começa a pintar durante a convalescença. Em 1928 quando Frida Kahlo entra no Partido comunista mexicano, revê o muralista Diego Rivera, com quem se casa no ano seguinte. Entre 1930 e 1933 passa a maior parte do tempo em Nova Iorque e Detroit com Rivera. Entre 1937 e 1939 Leon Trotski vive em sua casa de Coyoacan. Frida sofre vários abortos, submetendo-se, ainda, a duas cirurgias: uma no pé e outra para retirar o apêndice. Ao longo da vida, a pintora será submetida a mais de 35 cirurgias, numa das quais teve amputada a perna direita. Depois de algumas tentativas de suicídio com facas e martelos, em 13 de julho de 1954, Frida Kahlo, que havia contraído uma forte pneumonia, foi encontrada morta.
A vida e obra de Frida Kahlo são impossíveis de resumir em um simples enredo. Uma Mulher à frente de seu tempo, que lutou contra a debilidade física de seu corpo e social do seu gênero. Afinal quem era Frida Kahlo? Um vulcão preste a entrar em erupção que nunca se preocupou com o puritanismo hipócrita que a cercava, mulher de muitas paixões, apaixonados e apaixonadas. Assim como era apaixonada pelo México e o partido comunista, esta dualidade de sentimentos fez deste ícone mexicano uma mulher diferente. Alguns a definem como bi-sexual ousamos dizer que Frida estava, além disso, pois nem Ela própria sabia o que era e tão pouco queria saber, e quem disse que temos que ser Homem ou Mulher!A moral, os bons costumes?E quem diz que os costumes são bons ou ruins? Quem ousaria dizer a Frida o que fazer!Tudo isto ela retrata em sua obra, sentimentos conflituosos, desesperanças, saudades, frustrações, mas ainda assim ela deixa bem claro: “Frida está no domínio de tudo”.
Esta forma irreverente de ser, viver e pintar fez com que o galanteador e eternamente infiel muralista Diego Rivera se apaixonasse por ela. Da mesma forma Frida viu em Rivera o parceiro perfeito para suas aspirações políticas, seu desejo de liberdade e principalmente a companhia perfeita para sua arte. Frida e Diego escandalizariam muitos casais liberais do século XXI. Um casamento onde a fidelidade foi substituída pela lealdade, pelo menos esta era a vontade de Frida, sabendo que seria impossível esperar fidelidade do insaciável Rivera.
Os encontros com amantes eram comum para o casal. Diego sabia de todas as variações e desejos sexuais de Frida, porém ela não sabia de todos os desejos de Rivera. Entre idas e vindas o casamento foi resistindo, até o dia em que Diego seduz e conquista sua irmã mais nova Cristina. O pacto de lealdade não resistiu a este golpe, então Frida separou-se de Diego. Mesmo separados, ele procura Frida como companheiro pedindo ajuda para exilar Leon Trotski, um dos líderes da revolução Russa, com quem ela se envolve sentimentalmente, porém logo Trotski se vê obrigado a mudar de endereço novamente.
Frida aceitou um convite para expor suas obras em Paris na galeria Renón et Colle, em 1939.Ao retornar para o México recebeu dois grandes golpes. O primeiro foi o pedido de separação judicial de Diego Rivera, que iria para os Estados Unidos e o segundo foi a notícia da morte de Trotski, mais que um amigo era símbolo do autêntico comunismo de Frida. Neste contexto Frida Kahlo pintou em 1939 o quadro: “As duas Fridas”, o qual será objeto de análise neste trabalho.
 ANÁLISE DO QUADRO
O quadro mostra duas Fridas sentadas sobre um sofá de cordas sem encosto, uma ao lado da outra de mãos dadas. Ao fundo temos um céu muito escuro e talvez tempestuoso dando-nos a idéia de que naquele instante a autora não vislumbrava um horizonte claro, um futuro, mas sim uma eminente tempestade. O piso parece sem vida, sem cor, somente areia e mais nada. Nem uma grama, flor ou canteiro, nenhuma cor vibrante, apenas barro, quase tão sem vida ou apenas com meia vida como uma das duas Fridas.
As duas Fridas olham para o mesmo lugar, com olhar altivo, concentrado e enigmático. Suas peles se diferenciam através da tonalidade, uma é um pouco mais escura do que a outra, assim como suas expressões faciais. A de pele mais clara tem um rosto mais suave e feminino, enquanto que a outra não.
Outra vez Frida usou um vestido como diferencial em sua obra, os vestidos sempre foram peças importantes na composição dos seus quadros. Em seu diário está relatado que no dia do seu casamento, ela optou por um vestido verde com uma capa vermelha, cores da bandeira do México. Em outra obra ela delimitou as fronteiras do México e Estados Unidos com um vestido no varal.
Agora ela aparece sentada duplamente em um banco vestida com diferentes vestidos. Um deles veste a Frida de pele mais clara com expressões mais femininas e este é diferente de todos outros que ela pintou. Um vestido branco, com detalhes florais em vermelho, gola alta, com peitoral e mangas trabalhadas, talvez influência da recente viagem da autora a Paris. A outra Frida veste um cotidiano, com cores fortes, poucos detalhes e uma barra enfeitada, tipicamente um vestido “Fridiano”.
Um detalhe marcante no quadro é a exposição do coração em ambas Fridas, que se interligam por uma artéria. O coração da Frida tipicamente vestida aparece inteiro, ainda que fora do corpo, mas inteiro, enquanto que a outra está com o coração partido. A autora mostra o coração do lado externo do corpo, fazendo referência do que Diego falou de suas obras, quando disse que pintava o que é aparente, enquanto Frida externa o que se passa por dentro. Diante disto acreditamos que ela quis demonstrar e Diego compreendeu o que estava sentido.
O detalhe das mãos demonstra quem estava apoiando quem. A Frida de coração inteiro é quem segura à mão da outra, e na mão esquerda ela segura um pequeno retrato de Diego, que em muitas obras e por muito tempo foi retratado como seu terceiro olho, apesar de reconhecer que a recíproca não existia. Com a expressão menos feminina e queimada pelo sol, arranca este terceiro olho, mas quem rompe a ligação com o coração é a sensível Frida, pois ela é quem está com o instrumento cirúrgico na mão para romper as lembranças de Diego. As marcas de sangue que salpicam o vestido branco demonstram o quanto foi difícil e dolorosa esta ruptura.
Mesmo com o coração partido, a parte feminina e delicada de Frida Kahlo, não está morta. A forte, masculinizada através de expressões e o modo de sentar-se de pernas abertas, ainda mantém uma artéria ligada e levando vida ao coração partido da doce Frida. E a mesma mão que desligou a artéria da imagem de Rivera, ainda está ali, bem como a imagem. Apesar da autora não vislumbrar um futuro no horizonte, no céu ainda há nuvens brancas e esperança de que tudo pode ser religado.
Diante disto concluímos que a porção feminina de Frida está momentaneamente abalada. Esta foi nossa análise superficial da obra: “As duas Fridas”. Ainda que não seja nada disso que a autora quis nos dizer, arriscamo-nos sem medo de errar, ousamos e talvez, contradissemos muitas outras análises acadêmicas. Porém como revolucionários vislumbramos a possibilidade de esperança e dias melhores mesmo em céus tempestuosos. Também acreditamos que uma ruptura por mais dolorosa e sofrida que tenha sido, pode ser apenas momentânea. Por tudo isto, cremos que agindo desta forma, fomos um pouco, FRIDA KAHLO.
 REFERÊNCIAS
FRIDA. Direção: Julie Taymor. Produção: Salma Hayek, Lindsay Flickinger, Sarah Green, Nancy Hardin e outros. Roteiro: Clancy Sigal, Diane Lake, Gregory Nava, Anna Thomas. Intérpretes: Salma Hayek como Frida Kahlo, Alfred Molina, Antonio Bandeira. Distribuidora: Miramax Films / Lumière. Drama, 2002. 1DVD (123 min)
Kahlo, Frida. O diário de Frida Kahlo: um auto-retrato íntimo. Introdução Carlos Fuentes; comentários Sarah M. Lowe; tradução Mário Pontes. - 2ª. ed. - Rio de Janeiro: José Olympio, 1996. p. 287.
WIKIPÉDIA. Frida Kahlo. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Frida_Kahlo. Acesso em 10/09/2009.
  [1] Kahlo, Frida. O diário de Frida Kahlo: um auto-retrato íntimo. Introdução Carlos Fuentes; comentários Sarah M. ..Lowe; tradução Mário Pontes. - 2ª. ed. - Rio de Janeiro: José Olympio, 1996. p. 287.
http://www.artigonal.com/educacao-artigos/as-duas-fridas-1939-frida-kahlo-1286612.html

Perfil do Autor

Acadêmico de História UNIASSELVI; e Policial Militar.Catarinense, Casado Com Viviani e Pai de Giovanni e Fernanda.Um Garuvense Feliz e Realizado! Quer conhecer-me um pouco mais? Vá até o meu blog ! É muito fácil é só clicar : http://historianovicente.blog.terra.com.br !
 

maio 19, 2011

Reflexões sobre o kit do MEC contra a homofobia - um debate

A tirania da sociedade heterosexual encontrou um bom alvo na questão dos vídeos e da cartilha contra a homofobia preparada pelo MEC para ser distribuído nas escolas.
Um dos argumentos que a mídia tem apresentado é que a sexualidade das crianças não diz respeito à escola e sim ao espaço privado das famílias.
Pergunto-me:
- Quando o ou a estudante chega na escola, ele ou ela  vem com seu sexo ou deixa-o em casa?
- Quando os alunos estão na classe e começam a "zoar" com algum colega que tem feições ou atitudes que se aproximam de comportamento não heterossexual, este assunto deve ser resolvido pelo mestre ou mestra que estiver lecionando naquele momento ou não?
- Por que a escola deve fugir ou ignorar a questão da sexualidade, se ela está latente no ser humano desde o seu nascimento?  ou nascemos sem os órgãos genitais?  o homem já nasce com todos os seus espermatozóides.  A mulher é que ainda vai desenvolver os órgãos internos à medida que cresce e amadurece.
- Dentro de suas casas crianças são estupradas, abusadas sexualmente, pelos próprios pais, irmãos, tios, vizinhos, até pelo padre da paróquia, muitos desses que estão aí agora a dizer que o "kit gay" vai estimular crianças a serem homossexuais ou coisa que o valha.
- ". Nos Estados Un id o s, as denúncias junto às autoridades legais apresentam taxas va r á veis de 16 a 32%, com c e rca de 300 a 350 mil pessoas com idade de 12 anos ou mais vitimizadas anualmente , e igual
número de vítimas com idade abaixo de 12 a n o s 6. No Brasil, inexistem dados globais a re s p e i t o do fenômeno, estimando-se que menos de 10% dos casos chegam às delegacias "(http://www.scielosp.org/pdf/csp/v20n2/13.pdf)
- " Na violência sexual intra f a m i l i a r, a criança ou adolescente do sexo feminino se mostra como
vítima pre f e rencial dos agre s s o res sexuais, enc o n t rando-se inserida numa estru t u ra na qual
s o f re relações de poder expressas por um lado pela capacidade física, mental e social do a g re ss o r, e por outro, pela sua imaturi d a d e, submissão à autoridade paterna e dos mais ve l h o s, e à
desigualdade de gênero"
http://www.scielosp.org/pdf/csp/v20n2/13.pdf)




maio 04, 2011

Do Palácio de Buckinhan ao Palácio de Ondina Prof. DSc. Marcos Aurélio Santos Souza (UESB / DCHL).


 o professor da UESB (Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia) faz uma analogia entre a pompa e riqueza do recente casamento real e as lutas e dificuldades dos professores universitários deste estado.    -  selecionei alguns parágrafos:
Do Palácio de Buckinghan à Abadia de Westminster, só riqueza e suntuosidade, do Campo Grande à Praça Castro Alves, só pobreza e miséria. Desfiles em mundos praticamente opostos repetem a nossa imensa realidade humana, paradoxal e triste, através de um figurino bem representativo.  Lá, os chapéus, cabelos loiros ao vento, tiaras coloridas e os fabulosos bearskins da guarda real inglesa. Aqui, os cabelos crespos, guardas chuvas quebrados, que mal evitam a chuva insistente, mãos e bolsas nas cabeças para não estragar a “escova” e o “permanente”, boinas surradas e imundas da polícia militar, fingindo paciência com o trânsito caótico da Sete de Setembro e com as bolas vermelhas de  palhaços, escondendo os narizes dos manifestantes.
(aqui estamos nós|)

Lá embaixo, o mundo é diferente. O vermelho, um vermelho quase vinho, cardeal, que em Buckinghan  adorna os corpos dos soldados e do príncipe William, acúmulo de sangue coagulado das chacinas bretãs, pinta a Avenida Sete na manifestação dos professores. Nessa chuva que cai hoje e derrete os morros, jogando barro em cima das pessoas das Cajazeiras e dos morros na capital baiana, o vermelho mais importante para o governador é o vermelho da cruz, que adorna a bandeira do Reino Unido.
O governador prefere viver nos sonhos do palácio de Ondina, na pompa inglesa, que parece antiga e tradicional, mas, como bem lembra os historiadores Hobsbawn e Ranger, foi forjada recentemente como símbolo de poder, inquestionável e cruel. Ele prefere viver na sua própria invenção de estado, cortando salários, impedindo as Universidades crescerem e os professores se aperfeiçoarem, dedicando seu tempo integral por um salário de miséria. Prefere viver no castelo de Caras da elite baiana, ideologicamente branca de olhos azuis, como a elite britânica. 

Greve das Universidades Estaduais. Governo corta o ponto dos professores

O governo do estado decidiu suspender o pagamento dos salários dos professores da Universidade Estadual de Feira de Santana (Uefs), Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (Uesb) e Universidade Estadual de Santa Cruz (Uesc), que estão em greve desde o início do mês. A paralisação dos professores da Universidade do Estado da Bahia (Uneb) é mais recente e, por isso, eles receberão os salários de abril.

Hoje à tarde, os docentes das quatro instituições fazem uma manifestação no centro de Salvador. Eles vão se reunir em frente ao Teatro Castro Alves (TCA), no Campo Grande, e seguirão em passeata pela Avenida Sete de Setembro com destino à Praça Municipal. A greve prejudica cerca de 60 mil alunos. 

Segundo a Associação dos Docentes da Universidade de Feira de Santana (Adufs), a categoria  reivindica  do governo a retirada de uma cláusula do acordo salarial 2010 que impede melhorias salariais pelos próximos quatro anos e a revogação do Decreto 12.583/11 que reduz os gastos com as universidades este ano.  

O governo enviou uma resposta oficial aos representantes dos professores na qual mantém a cláusula e afirma só assinar o acordo salarial após a categoria sair da greve.








10% do PIB para a educação




Caros e caras

Dia 11 de maio, participe da Paralisação Nacional pelo PNE, o Plano Nacional de Educação que o Brasil quer e pelo piso para todos e todas.



http://www.cnte.org.br/index2.php?option=com_content&task=view&id=7043&pop=1&page=0&Itemid=261

abril 20, 2011

Trabalhadores em educação fizeram caminhada hoje pela manhã, embaixo de chuva, no Bairro Nelson Costa


Nem mesmo a chuva impediu que os Trabalhadores em Educação deixassem de cumprir com o que ficou deliberado na última assembleia do dia 19/04/2011, uma caminhada pelo bairro Nelson Costa, zona sul da cidade de Ilhéus.

Hoje, pela manhã, 20/04/2011, a categoria caminhou pelas ruas do Nelson Costa para informar a essa comunidade os reais motivos da paralisação por tempo indeterminado das atividades das unidades escolares.

O prefeito de Ilhéus, Sr Newton Lima, não assinou o acordo de campanha salarial 2011 dos Trabalhadores em Educação.

Na próxima segunda-feira, 25/04/2011, às 9h, no auditório do IME-Centro, a categoria voltará a se reunir em mais uma assembleia para novas deliberações.

Sua presença é muito importante.

Precisamos nos fortalecer.

abril 16, 2011

FW: Enquanto isso , no Brasil.......................... A procuradora e a empregada


A procuradora e a empregada
RUTH DE AQUINO
é diretora da sucursal de ÉPOCA no Rio de Janeiro
raquino@edglobo.com.br
Era uma noite de segunda-feira. Há um mês, a procuradora do Trabalho Ana Luiza Fabero fechou um ônibus, entrou na contramão numa rua de Ipanema, no Rio de Janeiro, atropelou e imprensou numa árvore a empregada doméstica Lucimar Andrade Ribeiro, de 27 anos. Não socorreu a vítima, não soprou no bafômetro. Apesar da clara embriaguez, não foi indiciada nem multada. Riu para as câmeras. Ilesa, ela está em licença médica. A empregada, com costelas quebradas e dentes afundados, voltou a fazer faxina.
Na hora do atropelamento, Ana Luiza tinha uma garrafa de vinho dentro da bolsa. Em vez de sair do carro, acelerava cada vez mais, imprensando Lucimar. Uma testemunha precisou abrir o carro para que Ana Luiza saísse, trôpega, como mostrou o vídeo de um cinegrafista amador.
Rindo, Ana Luiza disse, para justificar a barbeiragem: "Tenho 10 graus de miopia, não enxergo nada". E, sem noção, tentou tirar os óculos do rosto de um rapaz. A doutora fez caras e bocas na delegacia do Leblon. Fez ginástica também, curvando e erguendo a coluna. Dali, saiu livre e cambaleante para sua casa, usando um privilégio previsto em lei: um procurador não pode ser indiciado em inquérito policial. Não precisa depor. Não pode ser preso em flagrante delito. Não tem de pagar fiança. A mesma lei exige, porém, de procuradores um "comportamento exemplar" na vida. Se Ana Luiza dirigia bêbada, precisa ser afastada. Se estava sóbria, também, pela falta de decoro.
Foi aberta uma investigação disciplinar e penal contra ela em Brasília, no Ministério Público Federal. Levará cerca de 120 dias. Enquanto seus colegas juízes a julgam, Ana Luiza Fabero está em "férias premiadas" no verão carioca. Ela não respondeu a vários e-mails e a assessoria de imprensa da Procuradoria informou que o procurador-chefe não falaria nada sobre o assunto porque "o processo está em Brasília".
Lucimar está traumatizada, com medo de se expor, porque a atropeladora tem poder. Não procurou um advogado. Nasceu na Paraíba e acha que nunca vai ganhar uma ação contra uma procuradora do Trabalho. Lucimar recebe R$ 700 por mês, trabalha em casa de família, tem um filho de 6 anos e é casada com Aurélio Ferreira dos Santos, porteiro, de 28 anos. Aurélio me contou como Lucimar vive desde 10 de janeiro, quando foi atropelada na calçada ao sair do trabalho: "Minha mulher anda na rua completamente assustada e traumatizada. Estou tentando ver um psicólogo, porque ela não dorme direito, acorda toda hora com dor. É difícil até para ela comer, porque os dentes entraram, a boca afundou. Estamos pagando tudo do nosso bolso, particular mesmo, porque no hospital público tem muita fila".
A atropelada, traumatizada, nem procurou advogado. Acha que nunca ganharia uma ação contra a doutora
Lucimar quebrou duas costelas, o joelho ficou bastante machucado, o rosto ficou "todo deformado e inchado", segundo o marido. Ela tirou uma licença médica de dez dias, mas foi insuficiente. Recomeçou a trabalhar há duas semanas, ainda com muitas dores.
O encontro entre a procuradora e a empregada é uma fábula de nossa sociedade desigual. A história sumiu logo da imprensa. As enchentes de janeiro na serra fluminense fizeram submergir esse caso particular e escabroso. Um mês seria tempo suficiente para Ana Luiza Fabero ao menos telefonar para a moça que atropelou, desculpando-se e oferecendo ajuda. Nada. Além de falta de juízo, ela demonstrou frieza e egoísmo. Vive na certeza da impunidade.
"Somos um país de senhoritos, não carregamos nem mala", diz o antropólogo Roberto DaMatta, autor do livro Fé em Deus e pé na tábua. DaMatta associa a violência no trânsito brasileiro a nossa desigualdade. Usamos o carro como instrumento de poder e dominação social, um símbolo do "sabe com quem você está falando?".
"Dirigir um carro é na verdade uma concessão especial, porque a rua é do pedestre", diz DaMatta. Mas nós desrespeitamos o espaço público. "No caso da procuradora e da empregada, juntamos uma pessoa anônima com uma impunível", afirma. O Estado é usado para fortalecer o personalismo, a leniência e para isentar as pessoas de responsabilidade física. Em sociedades como a nossa, onde uns poucos têm muitos direitos e a grande massa muitos deveres, Lucimar nem sabe que pode e deve lutar.

E assim vivemos nós, brasileiros, vendo os próprios operadores da justiça abusando da lei e do poder que lhes foi conferido por nós para que trabalhem e produzam em benefício da justiça e da paz sociais.  Aqui na minha pequena cidade do interior da Bahia eu canso de ver, em dias de chuva torrencial, os carros a passarem - e é claro que eles não estão passando sozinhos, alguém está dirigindo! e as pessoas em pé, nas calçadas,  tomando chuva e esperando sua vez.  Vejo carros de quatro portas, cabines duplas, ar condicionado, andando em meio a este trânsito suburbano como se pudesse passar por cima de tudo e de todos, corro deles, distancio-me o mais que posso.  Sem ter tido oportunidade de ler o  DAMatta, mas agora vou fazê-lo,  eu já dizia que essas pessoas que dirigem entendem que seus veículos são mais importantes que as vidas dos pedestres, que sua "coisa", seu "ter" é mais importante que os seres humanos .  Eles jogam os carros em cima, eles xingam quem passa na frente, eles arrancam antes do sinal abrir!!! Claro que não é geral, mas muitas pessoas precisam se educar.  Saber dirigir não é apenas saber passar as marchas, mover o volante, ligar o carro.  Existe toda uma circunstância que envolve o ato, uma responsabilidade e um compromisso com a existência do outro que transcende o mero "dirigir".  Sempre os que reclamamos ficamos como os briguentos e os chatos.  Eu digo que esses briguentos e chatos são os cidadãos que sabem fazer valer seus direitos. Eu digo que essa impunibilidade tem que acabar!
Maria de Lourdes da Silva


Cântico negro José Régio




"Vem por aqui" — dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...
A minha glória é esta:
Criar desumanidades!
Não acompanhar ninguém.
— Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre à minha mãe
Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...
Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?
Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...
Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.
Como, pois, sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...
Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tetos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura !
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...
Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém!
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.
Ah, que ninguém me dê piedosas intenções,
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou,
É uma onda que se alevantou,
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
Sei que não vou por aí!



Maria de Lourdes da Silva
Óleo sobre tela
sem título







Essa poesia é minha alma, minha transparência, toda a rebeldia de minha adolescência e o que sobrou dela na iminência de meus cinquenta anos.  Talvez até eu esteja errada, e muito provavelmente estarei, mas essa teimosia, essa curiosidade pelo desconhecido, esse querer viver diferente, longe da mesmice e do igual medíocre que polui o ar de todos ou de quase todos, essa valentia, já nasceram comigo, arregaladas nos meus olhos, em cada junta, em cada ruga que a vida fez, em cada linha de expressão que a dor e o sofrimento desenharam em meu rosto, eu escrevo assim minha história, falem mal mas falem de mim, a geração de meus filhos escreve no orkut: "vocês riem de mim porque sou diferente e eu rio de vocês porque são todos iguais."


                   Maria de Lourdes da Silva

março 27, 2011

O crime de Sharpeville: Imperioso lembrar para jamais repetir, ou imitar


Por: Eloi Ferreira de Araujo
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Hoje é um dia especial para a cultura negra. Há exatos 51 anos, 69 crianças, mulheres e homens negros foram assassinados em praça pública pelo exército sul-africano no bairro de Sharpeville, na cidade de Johannesburgo. Motivo: terem saído às ruas, pacificamente, para reivindicar a extinção da Lei do Passe, que os obrigava a portar cartões de identificação com o registro dos locais por onde lhes era permitido circular.
O crime do regime do Apartheid da África do Sul ficou conhecido como O Massacre de Sharpeville. E motivou a instituição do Dia Internacional de Luta pela Eliminação da Discriminação Racial, pela Organização das Nações Unidas (ONU). Uma data que o Brasil, a maior Diáspora Africana do continente americano, tem razões, infelizmente, para relembrar.
O Governo Brasileiro, em articulação com a sociedade civil organizada, tem dado passos largos para desestabilizar a mentalidade que constrói tragédias como a de Sharpeville. As políticas de ações afirmativas, que elevaram consideravelmente o número de negros e negras nas universidades públicas; e a sanção do Estatuto da Igualdade Racial, marco histórico para a construção da igualdade de oportunidades entre negros e não-negros, são dois dos mais recentes passos da política de inclusão para o acesso aos bens econômicos e culturais do País.
Mas ainda há muito a enfrentar.
Uma rápida análise do noticiário é suficiente para identificar manifestações de racismo na sociedade brasileira. Em 13 de janeiro deste ano, por exemplo, os seguranças de um supermercado em São Paulo foram acusados de apreender, ilegalmente, uma criança de 10 anos, sob acusação de furto e gritos de "negrinho sujo e fedido". Depois de submeter o garoto a humilhações, os seguranças encontraram em seu bolso o ticket que comprovava que ele pagara pelos objetos sob suspeita...
No Carnaval baiano deste ano, mais um indicativo de discriminação. O líder da banda de pagode Psirico acusou um empresário, em plena Avenida, sob as luzes das câmeras de TV, de tê-lo chamado de "preto" e "favelado". Os casos ganharam destaque nos veículos de comunicação de massa, mas são apenas dois exemplos, dentre diversos outros registrados em notas de rodapé ou em Boletins de Ocorrência Policial.
O caldo de cultura que baseia tais ataques à identidade de descendentes de africanos está, sem sombra de dúvida, entrelaçado com o perfil dominante das mortes violentas no País, que vitimam, em sua maioria, jovens negros, segundo estudos sobre violência urbana da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). O mesmo caldo que motivou o assassinato dos jovens sul-africanos.
E os brasileiros têm consciência da força simbólica do racismo. Não foi à toa que festejaram a eleição do presidente Barack Obama nos Estados Unidos da América. Um negro no comando da mais poderosa nação do mundo emite simbolismo oposto ao que guia as mãos e as vozes que agridem a identidade dos negros e negras no Brasil e no mundo.
Não foi à toa também que, das conversas com a presidenta Dilma Rousseff, tenha constado a agenda da cultura negra. Para além dos resultados imediatos da discussão sobre o Plano de Ação Conjunta Brasil-Estados Unidos para a Eliminação da Discriminação Étnico-racial e Promoção da Igualdade, que norteou a pauta sobre o assunto, há os efeitos simbólicos da visita em si de Barack Obama sobre a identidade negra no Brasil.
Efeitos previsivelmente positivos. Um dos muitos que, esperamos, serão gerados em 2011, instituído pela ONU como o Ano Mundial dos Afrodescendentes.
* Artigo de Eloi Ferreira de Araujo, presidente da Fundação Cultural Palmares, publicado originalmente no Correio Braziliense, sob título "O crime de Sharpeville".


Leia materia completa: O crime de Sharpeville: Imperioso lembrar para jamais repetir, ou imitar - Portal Geledés 

Fonte: Palmares