outubro 16, 2014

BREVE REFLEXAO SOBRE AS ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS

Maria de Lourdes da Silva

                                                                                         A disputa da eleição presidencial no Brasil, neste ano de 2014, reflete, em si, toda a trajetória do povo brasileiro, sua história, suas lutas, as guerras e guerrilhas, as revoluções.
De um lado temos um representante das elites insanas deste país, homem, branco, rico, culto (talvez), um coronelete nascido em berço de ouro, acostumado desde pequeno com o ambiente político e a ser servido por muitos “criados”. Seu grupo é aquele que governou o Brasil durante oito anos, no final do século passado, através do pseudo sociólogo que disse “esqueçam tudo que eu escrevi”, assim que se elegeu Presidente da República. Sua troupe neoliberal saiu por ai vendendo e sucateando o Brasil: venderam o BANEB, o BANESPA, o BANERJ, a TELEBAHIA, a TELESP, a TELEMIG, por pouco não venderam a PETROBRÁS. Durante o governo dos tucanos nenhuma universidade foi criada e o modelo de financiamento da casa própria partia de um piso que permitia apenas à classe média e aos ricos da vez comprarem suas casas próprias. Este governo representou o latifúndio, a propriedade privada, a exploração do trabalho. O sinhozinho vem de uma família tradicional da política mineira, a oligarquia Neves, no poder desde a Ditadura Militar, há mais ou menos 50 anos, portanto. Sua política elitista e sua prepotência de coronel nos remetem aos ricos decadentes deste país, apegados ao poder, acostumados a mandar e desmandar a seu bel prazer e de acordo as necessidades da manutenção de suas fortunas, ultrapassados, porque nunca foram capazes de repartir com o povo a “sua” terra. A resposta a esses poderosos o povo já deu nas urnas, no primeiro turno, entre outros Estados, na Bahia – com a derrota do Carlismo - e em Minas Gerais -com a derrota do candidato do Coronel Neves (como o intitula o professor Braulino Santana, no Raposa Felpuda).
Do outro lado temos uma mulher, forjada na militância política em defesa dos direitos dos cidadãos, da democracia, da liberdade. Uma mulher que não aceitou o Golpe Militar e se reuniu com seus pares combatendo o arbítrio, a impunidade, a violência, a tortura, o desrespeito aos civis, fossem eles professores, estudantes, jornalistas, advogados, políticos ou simples desempregados, fossem eles brancos, negros ou índios, homens ou mulheres... Foi presa e torturada no período da Ditadura Militar, enquanto seu adversário usufruía, junto com o vovô, das beness do poder ilegal e imoral do Regime. Pegou em armas sim, para defender o meu, o seu, o nosso direito de estarmos aqui hoje e podermos falar o que queremos e o que pensamos. Seu governo é marcado por um avanço nos direitos civis das chamadas minorias políticas, grande maioria da sociedade. A Lei Maria da Penha foi reforçada, ampliada, estendida às mulheres brasileiras através das DEAM’S. Criou mais de duzentas escolas técnicas, construiu universidades federais por todo o país, desenvolveu programas de inclusão nas mais diversas instâncias, garantindo as cotas para negros e estudantes oriundos de escola pública nas universidades federais e estaduais, e agora direito a cota em concurso público. Sua política social tem a marca da consistência, da seriedade, da sobriedade, do compromisso. Construiu e entregou mais de três milhões e meio de casas próprias no programa MINHA CASA MINHA VIDA, lembrando o detalhe que a casa é no nome da Mulher; garantiu o Bolsa Família tirando milhões de brasileiros e brasileiras da linha da miséria; construiu restaurantes populares por todo o país, onde o povo pode almoçar pelo preço de dois reais. O dinheiro do governo federal, como uma sangria desatada, levou 500 anos sendo derramado nos cofres particulares dos ricos deste país. A primeira tentativa de mudança deste fluxo deu num Golpe Militar financiado pelos EUA, no exílio de um Presidente que havia sido eleito pelo povo, na prisão, exílio e até morte de intelectuais, no incêndio da União Nacional dos Estudantes, e tantas outras arbitrariedades perpetradas pelo Regime, contra o povo, entre 1964 e 1985; isto sem falar da Cabanagem (no Pará, sec. XIX), da Conjuração Baiana (sec. XVIII) e de Canudos, (na Bahia, sec. XX), da Sabinada (em Recife, sec. XIX) e da Revolução Constitucionalista (em São Paulo, sec XX), entre tantas outras revoluções comandadas pelo povo, pelos índios, pelos negros, por mulheres, nos rincões deste país, isto é, na História do Brasil, quando os ricos percebem que não são os seus interesses que estão sendo a prioridade do governo federal ou estadual, eles se juntam com tropas militares ou paramilitares ( a UDR está aí a postos) enforcam crianças, destroem cidades inteiras, matam as lideranças ou forjam mentiras sobre elas, como o caso do Plano Cohem, no governo de Getúlio Vargas.
Então é isso: há apenas 12 anos nosso país mudou e tem conseguido manter um novo rumo, uma nova artéria foi desenvolvida, desta vez jorrando sangue e vida para as crianças das periferias, para as mulheres, para os negros, para os deficientes, para os pobres.
Todos sabem que é ideológico no mais visceral sentido Marxista, o discurso do candidato das elites, quando ele diz que representa a indignação do povo. É suscetível que ele represente alguma indignação, mas não a do povo. Das elites brancas, sim, que viram nestes últimos doze anos, negros e estudantes de escola pública entrando nas universidades estaduais e federais para cursar Medicina ou Direito; mulheres pobres, que sempre fizeram muitos filhos e todos viviam na miséria, recebendo agora o Bolsa família, que minimiza sua pobreza enquanto outros programas do governo atendem seus filhos e a ela, preparando um futuro menos perverso, mais promissor para a família; o governo tem um programa chamado A CAMINHO DA ESCOLA e manda bicicletas para as crianças matriculadas que moram longe do colégio, mas as bicicletas vêm para as prefeituras e aí a corrupção, a ganância, a usura emperram todo o processo. É ideológico porque ele tenta fazer o eleitor acreditar que ele é o libertador, quando ele é o carrasco e como dizia Karl Marx, tenta transformar em cúmplices do próprio carrasco aqueles que acredita sejam alienados ao ponto de deixar de votar em si mesmos para votar nele, pois nestes 500 anos sempre se investiu na perpetuação do analfabetismo, da ignorância, da miséria, da pobreza, da esmola, dos favores devidos aos coronéis.
E é aí que mora a diferença dos últimos doze anos da política brasileira: o governo investiu em educação, em médicos, em saúde, em moradia, em alimentação, em proteção aos civis e isso fez com que o cidadão esteja menos suscetível e fragilizado diante de seus antigos e centenários algozes, que desejam cooptá-lo, para logo depois descarta-lo, como soe acontecer. Parodiando a eminente professora Marilena Chauí, podemos dizer que neste processo começamos a abandonar a ingenuidade e os preconceitos do senso comum, a não nos deixar guiar pela submissão às ideias dominantes e aos poderes estabelecidos, a buscar compreender a significação do mundo, da cultura, da história.