julho 18, 2018

A FEIJOADA

Qual a história da feijoada? A feijoada foi inventada no Brasil Colonial, a partir da escravidão. Os pretos colocavam dentro do seu feijão, partes dos animais mortos, abatidos, que os senhores da casa grande não comiam. Há quinhentos anos comemos as vísceras dos porcos e dos bois. Sabemos fazer tudo ficar cheiroso. Gostamos do sabor, do cheiro e da cor. A escravidão acabou e o hábito alimentar continuou. Geração após geração, temos ensinado a nossos filhos a comer tripas e banhas e gorduras. Hoje até alguns senhores da casa grande degustam a iguaria. Será que não já entupimos nossas veias de gordura o suficiente? será que não engrossamos nosso sangue o suficiente? será que já não matamos animais o suficiente?
Sem tomarmos pé do quanto a obesidade nos encurta a vida e nos priva de bons e saudáveis momentos, seguimos vida afora nos empanturrando de banhas e tripas e gorduras... Minha cadela é mais inteligente do que muitos de nós. seleciona a carne que vai comer.
Quantas florestas têm sido derrubadas no planeta, para o chão virar pasto, para alimentar animais criados para abate? O que será de nossa Mata Atlântica, de nossa floresta Amazônica daqui a cinquenta, cem anos? Esses miseráveis pretendem nos vender água e até ar. O Neo liberalismo acredita na privatização de nossas vidas.
Até quando pretendemos alimentar a indústria da doença? a indústria farmacêutica, as multinacionais, os super laboratórios que produzem remédios miraculosos contra o câncer? Câncer que vem nas carnes dos animais que compramos! Nós compramos o câncer! Pagamos caro por ele! Depois pagamos mais caro pela radio e depois pela quimio, depois fazemos hemodiálise, até não aguentarmos mais... Aí pagamos para morrer... Agora estamos pagando muito antes... temos SAF... a indústria legalizada da morte. Pagamos para morrer "decentes"... senão vamos ficar como o irmão de Antígona... jogados na montanha, o corpo esperando para ser devorado pelos abutres.
Se tivermos uma Antígona em nossas vidas, nos livraremos desse triste fim. Se não, a indigência e a indiferença darão fim à nossa carcaça cancerosa...
Mas, voltemos à feijoada. Quinhentos anos de pobreza nos ensinaram a comer até calangos. O nordeste brasileiro, anterior à era Lula, comia calango. O nordeste nem bebia água direito. Quase não podia tomar banho.
Precisamos mudar nossos hábitos alimentares. Esses ricos estão nos matando. Vendem-nos veneno como remédio, problemas como solução, morte como vida. Quinhentos anos de analfabetismo, de ignorância, de falta de escolas e universidades... é fácil nos enganar, nos ludibriar. Essas ratazanas astutas sabem como trair, atrair, seduzir. Sabem como manter os escravos no seu devido lugar, sem nem desconfiarem que o são. Um ou outro consegue se livrar do jugo. Alto preço.
Parece brincadeira. Talvez pareça que não tem sentido que pra falar de feijoada eu tenha ido da escravidão ao neo liberalismo. Dos hábitos alimentares à floresta amazônica. Precisamos aprender a pensar o todo. O capital divide, separa, distancia, estigmatiza, segrega, distingue! e assim nos tira a noção do todo. Não somos um coração, ou ossos, ou o cu, como quer a medicina moderna e seus especialistas em cardiologia, ortopedia ou urologia, só pra exemplificar. Somos uma Pessoa. Está tudo interligado.
Mais frutas, mais grãos, mais legumes, mais terra para o povo plantar sua própria comida. A Reforma Agrária é uma luta milenar. Plebeus e patrícios na antiga Roma lutaram duzentos anos por causa da terra!
Mais florestas. Menos armas. Mais amor, mais escolas, mais educação, mais rios, mais águas, mais flores, mais artes, mais lazer...
Ou estaremos condenados ao inferno dos venenos agrotóxicos e cancerígenos para sempre.
Maria de Lourdes da Silva