agosto 14, 2013

A JUSTIÇA E A LEI



A Justiça e a Lei não são a mesma Instituição.
A Lei pressupõe o Códice, a palavra escrita. A Justiça é a busca da verdade. 

A Lei é parcial, a Justiça é imparcial.

A Lei é um texto. A Justiça um pré-texto. Abutres escrevem a Lei, interesses escusos norteiam suas ações. A Justiça deveria inspirar a Lei, mas a Lei é escrava do lucro, da propriedade privada e da exploração do trabalho. A Lei serve aos ricos e poderosos, elites mantém-se no poder às custas de financiar e patrocinar campanhas políticas daqueles que escreverão os Códigos. A justiça jaz sedenta e solitária às portas dos presídios,onde pretos, pobres e prostitutas fenecem atrás das grades;  dos hospitais, onde o povo morre à míngua por não ter dinheiro para pagar os mercenários da Medicina moderna;  das escolas, onde as crianças entram e saem sem saber ler e escrever; das igrejas cercadas por grades para que os pobres não durmam ao seu redor ou não roubem seus rubis incrustados nas paredes barrocas de seus templos.
O Filósofo Kant diz que se deve agir de modo que consideremos a humanidade tanto na nossa pessoa quanto na de qualquer outro, e sempre como objetivo, nunca como simples meio. Para a Lei, o homem é um meio, um meio de manter Instituições como a Polícia e o Senado, este último, uma gerontocracia e a primeira, já nos esclarecia Louis Althüsser , Aparelho Repressivo do Estado, que serve para manter o status quo das classes dominantes.

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"Age sempre de tal modo que o teu comportamento possa vir a ser princípio de uma lei universal" - isso seria a Justiça, esse senso moral que quer para o outro apenas aquilo que se deseja para si mesmo. A lei moral dentro de nós!

A Lei, ensina-se nos Cursos de Direito das Academias.  A Justiça, não.  Ela é paraacadêmica, A Justiça é a Metafísica da Lei.  A Lei ama a "ordem", ainda que esta represente a desgraça de milhares de seres humanos, mas a Justiça ama o Homem.  A Lei ama o "progresso" e o "desenvolvimento", a Justiça ama  o tempo de cada um, a Terra para todos,  a igualdade de Direitos, a dignidade da pessoa humana. 






agosto 06, 2013

MEU PAI: OTACÍLIO JOSÉ DA SILVA

Pai, cresci lendo todas as páginas dos dezoito volumes desta coleção maravilhosa, que o Senhor, autodidata de carteirinha tinha em casa.  Um homem rude, escolaridade mínima, acho que até a 2ª ´série, mas colecionava livros.  Tínhamos a coleção de Alexandre Dumas, a BARSA - Enciclopédia Britânica, o Tesouro da Juventude...

coleção riquíssima, cheia de seções incríveis:FÁBULAS DE ESOPO, O LIVRO DOS PORQUÊS, HOMENS E MULHERES CÉLEBRES, O LIVRO DOS CONTOS...  Em um ou outro volume tinha uma imagem colorida, pois na maioria era tudo em preto e branco...
mas como era lindo poder ver aquelas gravuras coloridas... Olha essa!  Os livros ainda existem, papai, posso te chamar assim agora, Papai?  Rosa é a guardiã.  Estão lá, quase todos.  Meus filhos não podem entender esse meu amor por eles, meus filhos não sabem que quando cheiro esses velhos volumes do tesouro de minha juventude, sinto o cheiro de minha infância, cavalgo livremente no mar de minha memória, entre cantigas de roda, brincadeiras de picula e horas sentada docemente e espontaneamente , lendo.
Esta abaixo era a abertura dos livros,depois da capa dura, bordada a ouro, encadernação puro luxo.  São duas crianças à direita, embaixo, contemplando o conhecimento, desde a pré-história, representada à esquerda, embaixo, até o avanço tecnológico de então, representado por um foguete e um avião.  Os dois meninos estão sentados sobre um tapete, estão voando, voando nas asas da imaginação, da ciência...e foi assim que o Senhor nos criou, com esse afã de descobridor, com essa curiosidade sempre possível de ser saciada pelos livros, pelo estudo.

Eu lembro que eu achava que a estrela do mar era uma estrela do céu que havia caído no mar e se transformado. Mas todos os planetas e o sistema solar estavam bem ali, à minha disposição: O IMENSURÁVEL UNIVERSO.  MILHÕES DE ANOS PARA CHEGAR ÀS ESTRELAS.  Hoje as crianças nem usam essa palavra: imensurávelmente!  existe uma idéia semeada no inconsciente coletivo pelo consumo, de que tudo é mensurável, tudo tem preço, tudo se compra, tudo se pode desvendar!  Mas até o tempo de distância entre nós e eles começava a ser pesquisado.
Era uma visão ao mesmo tempo que romântica e técnica da Ciência.  A obra é de 1956.  Ainda nem tinha nascido, eu.  Ainda não tinha havido viagem à lua, nem golpe militar.   Juscelino Kubitschek governava o país.  Brasília ainda ia ser fundada.  Engraçado, hoje eu posso olhar esses livros e saber o que ainda ia ser escrito em suas páginas...



Hoje fico pensando como meu pai era culto.  Ele sabia sobre tudo isso, aprendeu sozinho o que aquele monte de doutores que viviam ao seu redor precisaram ir à escola aprender.  Aprendeu porque quis.  Aprendeu por ser um espírito desbravador , sabia astronomia, Política, Literatura, desde Jorge Amado a Shakespeare.   


Essas páginas que tinham um pouco de cor sempre foram as que mais me atraíam.  Se tivesse lido só elas, já teria aprendido muita coisa.  Pai, o senhor era uma enciclopédia ambulante.  E poesia, nossa, como meu pai sabia declamar poesia, longas poesias, sonetos, Augusto dos Anjos, Olavo Bilac, Castro Alves...
Povos do mundo inteiro, o senhor já sabia que eles existiam... não foi à toa que a primeira casa do bairro a ter uma televisão foi a sua casa.  O Senhor era o Juiz das festas do bairro.  Meu Deus, eu tinha 13 anos quando lhe perdi, foi duro demais pra mim, na hora da adolescência, na hora do risco, o senhor se foi com toda a sua cultura, seu conhecimento... e eu fiquei em meio a seus livros ainda durante anos e anos... e ainda estou aqui no meio deles, esse cheiro é seu também, o cheiro do meu pai.
Cheiro de descoberta, cheiro de livros , de leituras, de aprendizados, esse seu espírito nos envolveu a todos e esse foi seu grande legado, sua inteligência , seu amor ao saber.  Poderia lhe chamar de filósofo, amavas o saber, amavas a SABEDORIA.  Não tem problema que você não tenha me deixado propriedades, vejo tantos aí se matando por causa de heranças, vejo tantos aí que as receberam e acabaram com tudo num piscar de olhos, vejo tantos aí que nem estudaram e nem trabalharam e nem aprenderam nada na vida porque ficaram esperando receber a herança...
Olha pai, eu ainda me lembro que como a gente queria (todo mundo) a coxa da galinha, aí o Senhor dizia:  -"vou mandar fazer uma galinha só de coxa pra vocês".  Pai, hoje em dia a gente compra só a coxa ou só o coração ou só a moela da galinha.  A televisão agora é por controle remoto, todo mundo tem telefone, vivemos todos plugados no universo virtual e nem sempre sabemos mais quem somos, pois o Mercado diz o tempo inteiro o que devemos desejar, querer, pensar, ser e ter.

é incrível, as páginas estão intactas, ninguém riscou, ninguém rasgou, todo mundo usou e conservou.  
Encyclopedia em que se reunem os conhecimentos que todas as pessoas cultas necessitam possuir, offerecendo-os em forma adequada para o proveito e entretimento (sic) dos meninos.
Meu pai deixava eu ler muito, ele gostava que eu lesse.
Parabéns papai pelo seu dia.  Sei que o Senhor deve andar recitando muitas poesias e lendo muitos livros.  Quando nos reencontrarmos temos muito que conversar.




julho 18, 2013

DA SERVIDÃO MODERNA Jean-François Brient

“Toda verdade passa por três estágios.
No primeiro, ela é ridicularizada.
No segundo, é rejeitada com violência.
No terceiro, é aceita como evidente por si própria.”

Schopenhauer


   A servidão moderna é um livro e um documentário de 52 minutos produzidos de maneira completamente independente; o livro (e o DVD contido) é distribuído gratuitamente em certos lugares alternativos na França e na América latina. O texto foi escrito na Jamaica em outubro de 2007 e o documentário foi finalizado na Colômbia em maio de 2009. Ele existe nas versões francesa, inglesa e espanhola. O filme foi elaborado a partir de imagens desviadas, essencialmente oriundas de filmes de ficção e de documentários. 

    O objetivo principal deste filme é de por em dia a condição do escravo moderno dentro do sistema totalitário mercante e de evidenciar as formas de mistificação que ocultam esta condição subserviente. Ele foi feito com o único objetivo de atacar de frente a organização dominante do mundo.

    No imenso campo de batalha da guerra civil mundial, a linguagem constitui uma de nossas armas. Trata-se de chamar as coisas por seus nomes e revelar a essência escondida destas realidades por meio da maneira como são chamadas.  A democracia liberal, por exemplo, é um mito já que a organização dominante do mundo não tem nada de democrático nem de liberal. Então, é urgente substituir o mito de democracia liberal por sua realidade concreta de sistema totalitário mercante e de expandir esta nova expressão como uma linha de pólvora pronta para incendiar as mentes revelando a natureza profunda da dominação presente. 

    Alguns esperarão encontrar aqui soluções ou respostas feitas, tipo um pequeno manual de “como fazer uma revolução?” Esse não é o propósito deste filme. Melhor dizendo, trata-se mais exatamente de uma crítica da sociedade que devemos combater. Este filme é antes de tudo um instrumento militante cujo objetivo é fazer com que um número grande de pessoas se questionem e difundam a crítica por todos os lados e sobretudo onde ela não tem acesso. Devemos construir juntos e por em prática as soluções e os elementos do programa. Não precisamos de um guru que venha explicar à nós como devemos agir: a liberdade de ação deve ser nossa característica principal. Aqueles que desejam permanecer escravos estão esperando o messias ou a obra que bastando seguir-la  ao pé da letra, libertam-se. Já vimos muitas destas obras ou destes homens em toda a história do século XX que se propuseram constituir a vanguarda revolucionária e conduzir o proletariado rumo a liberação de sua condição. Os resultados deste pesadelo falam por si mesmos.

    Por outro lado, condenamos toda espécie de religião já que as mesmas são geradoras de ilusões e nos permite aceitar nossa sórdida condição de dominados e porque mentem ou perdem a razão sobre muitas coisas. Todavia, também condenamos todo astigmatismo de qualquer religião em particular. Os adeptos do complot sionista ou do perigo islamita são pobres mentes mistificadas que confundem a crítica radical com a raiva e o desdém. Apenas são capazes de produzir lama. Se alguns dentre eles se dizem revolucionários é mais com referência às “revoluções nacionais” dos anos 1930-1940  que à verdadeira revolução liberadora a qual aspiramos. A busca de um bode expiatório em função de sua pertencia religiosa ou étnica é tão antiga quanto a civilização e não é mais que o produto das frustrações daqueles que procuram respostas rápidas e simples frente ao mal que nos esmaga. Não deve haver ambigüidade com respeito a natureza de nossa luta. Estamos de acordo com a emancipação da humanidade inteira, fora de toda discriminação. Todos por todos é a essência do programa revolucionário ao qual aderimos.

    As referências que inspiraram esta obra e mais propriamente dita, minha vida, estão explicitas neste filme: Diógenes de Sinope, Etienne de La Boétie, Karl Marx e Guy Debord. Não as escondo e nem pretendo haver descoberto a pólvora. A mim, reconhecerão apenas o mérito de haver sabido utilizar estas referências para meu próprio  esclarecimento. Quanto àqueles que dirão que esta obra não é suficientemente revolucionária, mas bastante radical ou melhor pessimista, lhes convido a propor sua própria visão do mundo no qual vivemos. Quanto mais numerosos em  divulgar estas idéias, mais rapidamente surgirá a possibilidade de uma mudança radical. 

    A crise econômica, social e política revelou o fracasso patente do sistema totalitário mercante. Uma brecha surgiu. Trata-se agora de penetrar mas de maneira estratégica. Porém, temos que agir rápido pois o poder, perfeitamente informado sobre o estado de radicalização das contestações, prepara um ataque preventivo sem precedentes. A urgência dos tempos nos impõe a unidade em vez da divisão pois o quê nos une é mais profundo do quê o que nos separa. É muito fácil criticar o quê fazem as organizações, as pessoas ou os diferentes grupos, todos nós reclamamos uma revolução social. Mas na realidade, estas críticas são provenientes do imobilismo que tenta convencer-nos de que nada é possível.

    Não devemos deixar que o inimigo nos vença, as antigas discussões de capela no campo revolucionário devem, com toda nossa ajuda, deixar lugar à unidade de ação. Deve-se duvidar de tudo, até mesmo da dúvida.

    O texto e o filme são isentos de direitos autorais, podem ser recuperados, divulgados, e projetados sem nenhuma restrição. Inclusive são totalmente gratuitos, ou seja, não devem de nenhuma maneira ser comerci

Jean-François Brient e Victor León Fuentes







DA SERVIDÃO MODERNA  
Capítulo I: Epigrafo
“Meu otimismo está baseado na certeza que esta civilização vai desmoronar. Meu pessimismo em tudo aquilo que ela faz para arrastar-nos em sua queda.”



Capítulo II: A servidão voluntária

“Que época terrível esta, onde idiotas dirigem cegos.” 
William Shakespeare




A servidão moderna é uma escravidão voluntária, aceita por essa multidão de escravos que se arrastam pela face da terra. Eles mesmos compram as mercadorias que lhes escravizam cada vez mais. Eles mesmos correm atrás de um trabalho cada vez mais alienante, que lhes é dado generosamente se estão suficientemente domados. Eles mesmos escolhem os amos a quem deverão servir. Para que essa tragédia absurda possa ter sucedido, foi preciso tirar desta classe, a capacidade de se conscientizar sobre a exploração e a alienação da qual são vítimas. Eis então a estranha modernidade da época atual. Ao contrário dos escravos da Antiguidade, aos servos da Idade Média e aos operários das primeiras revoluções industriais, estamos hoje frente a uma classe totalmente escrava, que  no entanto não se dá conta disso ou melhor ainda, que não quer enxergar. Eles não conhecem a rebelião, que deveria ser a única reação legítima dos explorados. Aceitam sem discutir a vida lamentável que foi planificada para eles. A renúncia e a resignação são a fonte de sua desgraça.

Eis então o pesadelo dos escravos modernos que só aspiram a deixar-se levar pela dança macabra do sistema de alienação.

A opressão se moderniza estendendo-se por todas as partes, as formas de mistificação que permitem ocultar nossa condição de escravos.
Mostrar a realidade tal qual é na verdade e não tal como mostra o poder constitui a mais autentica subversão.

Somente a verdade é revolucionária




 Capítulo III: A organização territorial e o habitat


“O urbanismo é a tomada do meio ambiente natural e humano pelo capitalismo que, ao desenvolver-se em sua lógica de dominação absoluta, refaz a totalidade do espaço como seu próprio cenário.”
Guy Debord, A sociedade do espetáculo




  À medida que o homem constrói seu mundo com a for  À medida que o homem constrói seu mundo com a força do trabalho alienado, o cenário deste mundo se converte na prisão onde terão que viver. Um mundo sórdido, sem sabor, nem odor, que leva consigo a miséria do modo de produção dominante.
Este cenário está em eterna construção. Nada nele é estável. A remodelação permanente do espaço que nos envolve se justifica pela amnésia generalizada e pela insegurança na qual devem viver seus habitantes. Trata-se de refazer tudo a imagem do sistema: o mundo se torna cada dia mais sujo e barulhento, como uma usina.
Cada parcela deste mundo é propriedade de um Estado ou de um particular. Este roubo social que é a apropriação exclusiva do solo, se encontra materializada na onipresença de muros, barreiras, e fronteiras... São as marcas visíveis desta separação que invade tudo. 
Mas ao mesmo tempo, a unificação do espaço, de acordo com os interesses da cultura mercante, é o grande objetivo da nossa triste época. O mundo deve transformar-se em uma imensa autopista, racionalizada ao extremo, para facilitar o transporte das mercadorias. Todo obstáculo, natural ou humano, deve ser destruído.
O ambiente onde se aglomera esta massa servil é o fiel reflexo de sua vida: se assemelha a jaulas, a prisões, a cavernas. Porém contrariamente aos escravos e aos prisioneiros, o explorado dos tempos modernos deve pagar por sua jaula.



““Porque não é o homem mas o mundo que se tornou um anormal.”
Antonin Artaud


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Capítulo IV: A mercadoria

“A primeira vista, a mercadoria parece uma coisa simples, trivial, evidente, porém, analisando-a, vê-se complicada, dotada de sutilezas metafísicas e discussões teológicas.”
O Capital, Karl Marx, capítulo I, livro 4.





  E é neste lugar estreito e lúgubre, onde o escravo moderno acumula as novas mercadorias que deveriam, segundo as mensagens publicitárias onipresentes, trazer-lhe a felicidade e a plenitude. Porém quanto mais acumula mercadorias, mais ele se afasta da oportunidade de ser feliz.

“Que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma?
                    Marcos 8, 36

  A  mercadoria, ideológica por essência, despoja de seu trabalho aquele que a produz e despoja de sua vida aquele que a consome. No sistema econômico dominante, já não é mais a demanda que condiciona a oferta, mas a oferta que determina a demanda. Então é assim que de maneira periódica, surgem novas necessidades que são rapidamente consideradas como vitais para a maioria da população: primeiro foi o radio, depois o carro, a televisão, o computador e agora o telefone celular.
    Todas estas mercadorias, distribuídas massivamente em um curto lapso de tempo, modificam profundamente as relações humanas: servem por um lado para isolar os homens um pouco mais de seu semelhante e por outro a difundir as mensagens dominantes do sistema. As coisas que se possuem acabam por possuir-nos.



 Capítulo V: A Alimentação

“O que vem a ser alimento para um é veneno para o outro.”
Paracelso



 Porém é quando se alimenta que o escravo moderno ilustra melhor o estado de decadência em que se encontra. Dispondo de um tempo cada vez mais limitado para preparar a comida que ingurgita, ele se vê obrigado a engolir rápido o que a indústria agroquímica produz, errando pelos supermercados à procura dos ersatzes que a sociedade da falsa abundância consenti em dar-lhe. Ai ainda, só lhe resta a ilusão da escolha. A abundância dos produtos alimentícios apenas dissimula sua degradação e sua falsificação. Não são mais que organismos geneticamente modificados, uma mistura de colorantes e conservantes, de pesticidas, de hormônios e de outras tantas invenções da modernidade. O prazer imediato é a regra do modo de alimentação dominante, também é a regra de todas as formas de consumo. E as conseqüências que ilustram esta forma de alimentação se vêem em todas as partes.

    Mas é frente a indigência da maioria que o homem ocidental goza de sua posição e de seu consumismo frenético. Em vista disso, a miséria está em todos os lados onde reina a sociedade totalitária mercante. A escassez é o reverso da moeda da falsa abundância. E num sistema que promove a desigualdade como critério de progresso, mesmo se a produção agro-química é suficiente para alimentar a totalidade da população mundial, a fome nunca deverá desaparecer.

stão convencidos de que o homem, espécie pecadora por excelência, domina a criação. Como  se todas as outras criaturas tivessem sido criadas apenas para servir-lhes a comida, a roupa, para serem martirizadas e exterminadas.” 
Isaac Bashevis Singer

    A outra conseqüência da falsa abundância alimentícia é a generalização das usinas de concentração e de exterminação massiva e bárbara das espécies que servem de alimento aos escravos. Esta é a real essência do modo de produção dominante. A vida e a humanidade não resistem ante o desejo de proveito de certos indivíduos.


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Capítulo VI: A destruição do meio ambiente

«Que triste é pensar que a Natureza fala e que a espécie humana não a escuta»
Victor Hugo


E a espoliação dos recursos do planeta, a abundante produção de energia ou de mercadorias, o lixo e os resíduos do consumo ostentoso, hipotecam a possibilidade de sobrevivência de nossa Terra e das espécies que nela habitam. Porém para deixar livre curso ao capitalismo selvagem, o crescimento econômico nunca deve parar. É preciso produzir, produzir e reproduzir mais ainda.

  E são os mesmo poluidores que se apresentam hoje como salvadores potenciais do planeta. Estes imbecis da indústria do espetáculo patrocinados pelas empresas multinacionais tentam convencer-nos de que uma simples mudança em nossos hábitos seria suficiente para salvar o planeta de um desastre.  E enquanto nos culpam, continuam poluindo sem cessar, nosso meio ambiente e nosso espírito. Essas pobres teses pseudo-ecológicas são repetidas pelos políticos corruptos em seus slogans publicitários. Porém nunca propõem uma mudança radical no sistema de produção. Trata-se, como sempre, de mudar alguns detalhes para que tudo fique como antes.



Capítulo VII: O trabalho

Trabalho, do latin Tripalium, três paus, instrumento de tortura.




Mas para entrar na ronda do consumo frenético, é necessário ter dinheiro e para conseguir dinheiro, é preciso trabalhar, ou  seja vender-se. O sistema dominante fez do trabalho seu principal valor. E os escravos devem trabalhar mais e mais para pagar a crédito sua vida miserável. Eles estão esgotados de tanto trabalhar, perdem a maior parte de sua energia e têm que suportar as piores humilhações. Passam toda sua vida realizando uma atividade extenuante e insidiosa que é proveitosa apenas para alguns. 
    A invenção do desemprego moderno tem como objetivo assustar-los e fazê-los agradecer sem parar a generosidade do poder que se mostra tão generoso com eles. Que fariam sem essa tortura que é o trabalho? E são essas atividades alienantes que são apresentadas como libertadoras. Que mesquinhez e que miséria!

    Sempre apressados pelo cronômetro ou pela chibata, cada gesto dos escravos é calculado afin de aumentar a produtividade. A organização científica do trabalho constitui a real essência da desapropriação dos trabalhadores, seja do fruto de seu trabalho, mas também do tempo que eles passam na produção automática das mercadorias ou dos serviços. O papel do trabalhador se confunde com o da máquina nas usinas, com o do computador nas oficinas. O tempo pago não volta mais.
    Assim, a cada trabalhador é atribuído um trabalho repetitivo, seja ele intelectual ou físico. Ele é um especialista em seu domínio de produção. Essa especialização encontra-se na escala do planeta, no âmbito da divisão internacional do trabalho. Concebe-se em Ocidente, se produz na Ásia, se morre na África. 



Capítulo VIII: A colonização de todos os setores da vida


“é o homem inteiro que é condicionado ao comportamento produtivo pela organização do trabalho, e fora da fábrica ele conserva a mesma pele e a mesma cabeça.”
Christophe Dejours


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 O escravo moderno teria sido capaz de se contentar de sua servidão ao trabalho, mas à medida que o sistema de produção coloniza todos os setores da vida, o dominado perde seu tempo com lazeres, com diversões e férias organizadas. Em nenhum momento de seu cotidiano, ele foge da influência do sistema que faz parte de cada instante de sua vida. É um escravo a tempo integral.


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 Capíulo IX: A medicina mercantil

"A medicina faz-nos morrer mais...”

Plutarco

laboratoire 


    A origem dos males do escravo moderno está na degradação generalizada de seu ambiente, do ar que respira, e da comida que ele consome; o stress provocado pelas suas condições de trabalho e pelo conjunto de sua vida social.
    Sua condição subserviente é um mal que nunca encontrará remédio. Somente a total liberação da condição na qual ele se encontra, pode permitir ao escravo moderno se liberar de seus sofrimentos.

    A medicina ocidental só conhece um remédio contra os males dos quais sofrem os escravos modernos: a mutilação. É à base de cirurgias, de antibiótico ou de quimioterapia que se trata os pacientes da medicina mercantil. Nunca se ataca a origem do mal, senão que a suas conseqüências, pelo motivo de que esta busca da origem do mal nos conduziria inevitavelmente à condenação fatal da organização social em toda sua totalidade.

    Assim como ele transformou todos os detalhes de nosso mundo em simples mercadoria, o sistema atual fez de nosso corpo uma mercadoria, um objeto de estudo e de experiências para os pseudo-aprendizes de medicina mercantil e para a biologia molecular. Os donos do mundo já estão prontos para patentear os seres vivos.
    A seqüencial completa do ADN do genoma humano é o ponto de partida de uma nova estratégia posta em ação pelo poder. A descodificação genética não tem outro objetivo que o de amplificar consideravelmente as formas de dominação e de controle.

    Depois de tudo, nosso corpo também não nos pertence.




 Capítulo X: A obediência como segunda natureza

“De tanto obedecer, adquirimos reflexos de submissão.”

Anônimo

rat de laboratoire 


    O melhor de sua vida foge entre seus dedos, mas ele prossegue assim, pois já está acostumado a sempre obedecer. A obediência se tornou sua segunda natureza. Ele obedece sem saber por qual razão, simplesmente porque ele sabe que deve obedecer. Obedecer, produzir e consumir, eis ai o trítico que domina sua vida. Obedece-se aos pais, aos professores, aos patrões, aos proprietários, aos comerciantes, obedecem-se também as leis, as forças da ordem e a todos os tipos de poderes, pois ele não sabe fazer outra coisa. Não existe algo que lhe dê mais medo que a desobediência, já que desobedecer, aventurar, mudar, é muito arriscado. Assim como uma criança que perde de vista seus pais, o escravo moderno se sente perdido sem o poder que o criou. Então ele continua obedecendo.

    É o medo que nos fez escravos e que nos mantêm nesta condição. Baixamos a cabeça frente aos donos do mundo, aceitamos esta vida de humilhação e de miséria somente por medo.
    No entanto, dispomos da força numérica frente a esta minoria que governa. A força deles não sai de seus policiais, mas de nosso consentimento. Justificamos nossa covardia diante do enfrentamento legítimo contra as forças que nos oprime com um discurso cheio de humanismo moralizador. A rejeição da violência revolucionária está ancorada nos espíritos daqueles que se opõem ao nome dos valores que esse mesmo sistema nos ensinou.
    Porém, quando se trata de conservar sua hegemonia, o poder não hesita em se servir da violência.





 Capítulo XI: A repressão e a violência

“Sob um governo que prende qualquer homem injustamente, o único lugar digno para um homem justo é também a prisão.”

Henry David Thoreau, A desobediência civil

 foule 1984


    No entanto, ainda existem indivíduos que escapam ao controle das consciências, mas estão sob vigilância. Todo ato de rebelião ou de resistência está de fato assimilada a uma atividade desviada ou terrorista. A liberdade só existe para aqueles que defendem os imperativos mercantis. A oposição real ao sistema dominante, infelizmente, é totalmente clandestino. Para estes opositores, a repressão é a regra em uso. E o silêncio da maioria dos escravos frente a essa repressão está justificado na aspiração mediática e política que nega o conflito existente na sociedade atual.


Capítulo XII: o dinheiro

“O que outrora se fazia “por amor a Deus”, hoje se faz por amor do dinheiro, isto é, daquilo que hoje confere o sentimento de poder mais elevado e a boa consciência.” 

Aurora, Nietzsche

billet 


    Como todos os seres oprimidos da historia, o escravo moderno precisa de seu misticismo e de seu deus para anestesiar o mal que lhe atormenta e o sofrimento que o sufoca. Mas este novo deus, a quem entregou sua alma, não é nada mais que nada. Um pedaço de papel, um número que apenas tem sentido porque todo mundo decidiu dar-lhe. É em nome desse novo deus que ele estuda, que ele trabalha, que ele luta e se vende. É em nome desse novo deus que abandonou seus valores e está disposto a fazer qualquer coisa. Ele acredita que quanto mais tem dinheiro mais se libertará dos problemas dentro dos quais ele está aprisionado.  Como se a possessão andasse de mãos dadas com a liberdade. A liberação é uma ascese que provém do domínio de si mesmo; um desejo e uma vontade de atuar. Está no ser e não no ter. Porém é preciso decidir-se a não mais servir, nem obedecer. É preciso também romper com esse hábito que, ao parecer, ninguém ousa recriminar.



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Capitulo XIII: Não há alternativa na organização social dominante

Acta est fabula
(a peça está representada)

horloge 


   Ora, escravo moderno está convencido de que não existe alternativa na organização do mundo atual. Ele se resignou a esta vida porque pensa que não pode haver outra. E é ai mesmo que se encontra a força da dominação presente: entreter a ilusão desse sistema que colonizou toda a face da Terra é o fim da história. Convenceu a classe dominada que adaptar-se a sua ideologia é como adaptar-se ao mundo tal qual se mostra e como sempre foi. Sonhar com outro mundo se tornou um crime criticado unanimemente pelos meios de comunicação e os poderes públicos. O criminoso é na realidade aquele que contribui, consciente ou não, na demência da organização social dominante. Não existe loucura maior que a do sistema atual.


Capítulo XIV: A imagem

E, se não, fica sabendo ó rei, que não serviremos a teus deuses nem adoraremos a estátua de ouro que levantaste.

Antigo Testamento, Daniel 3 :18

 panneaux


    Frente à devastação do mundo real, é preciso que o sistema atual colonize a consciência dos escravos. É por isso que no sistema dominante, as forças de repressão são precedidas pela dissuasão, que desde a infância, realiza sua obra de formação de escravos. Eles devem esquecer-se de sua condição servil, de sua prisão, e de sua vida miserável. Basta olhar essa multidão hipnotizada frente as telas que acompanham sua vida cotidiana. Eles enganam sua insatisfação permanente com o reflexo manipulado de uma vida sonhada, feita de dinheiro, de glória e de aventura. Mas seus sonhos são tão lamentáveis como sua vida miserável.

    Existem imagens para todos e por todos os lados. Essas imagens levam consigo a mensagem ideológica da sociedade moderna e serve de instrumento de unificação e de propaganda. Vão crescendo à medida que o homem é desapropriado de seu mundo e de sua vida.

    A criança é a primeira vítima destas imagens, pois se trata de sufocar a liberdade desde o berço. É necessário tornar-los estúpidos e tirar-lhes toda capacidade de reflexão e de crítica. Tudo isso se faz, evidentemente, com a cumplicidade desconcertante dos pais que não buscam se quer resistir frente à força imponente de todos os meios modernos de comunicação. Eles mesmos compram todas as mercadorias necessárias para escravizar sua progenitura. Desapropriam-se da educação de seus filhos e deixam que o sistema alienador e medíocre, se encarregue dela.

    Existem imagens para todas as idades e para todas as classes sociais. Os escravos modernos confundem essas imagens com cultura e, às vezes, com arte. Recorrem-se aos instintos mais baixos para vender qualquer mercadoria. E, é a mulher duplamente escrava da sociedade atual, que paga o preço mais alto. Ela é apresentada como simples objeto de consumo. A revolta foi também transformada em uma imagem que se vende para melhor destruir seu potencial subversivo. A imagem ainda é, até hoje, a forma de comunicação mais direta e mais eficaz: ela cria modelos, aliena as massas, menti, e promove frustrações. Difundi-se a ideologia mercantil pela imagem, pois o objetivo continua sendo o mesmo: vender, modelos de vida ou produtos, comportamentos ou mercadorias. Vender é o único que importa.



 Capítulo XV: A diversão

“A televisão aliena  aos que a vêm, e não aos que a fazem.”

Patrick Poivre d’Arvor

public télévision 


    Estas pobres criaturas se divertem, mas esse divertimento só serve para distrair os mesmos do verdadeiro mal que lhes afeta. Deixaram que fizessem de suas vidas qualquer coisa e fingem sentirem-se orgulhosos por isso. Tentam transmitir uma satisfação, mas ninguém acredita. Não conseguem se quer enganar-se a si mesmos quando se deparam com reflexo frio do espelho da vida. Assim perdem tempo com estúpidos que lhes fazem rir e cantar, sonhar ou chorar.
    Através do esporte midiatizado se representa o êxito e o fracasso, os esforços e as vitórias, que os escravos modernos deixaram de viver em seu cotidiano. Sua insatisfação lhe incita a viver por procuração frente ao aparelho de televisão. Assim como os imperadores da Roma antiga compravam a submissão do povo com pão e jogos, hoje em dia é com diversões e consumo do vazio que se compra o silêncio dos escravos.



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 Capítulo XVI: A linguagem 

 “Nós acreditamos que dominamos as palavras, mas são as palavras que nos dominam.”

Alain Rey

 bouche vendetta


    O controle das consciências passa essencialmente pela utilização viciada da linguagem utilizada pela classe economicamente e socialmente dominante. Sendo o detentor de todos os meios de comunicação, o poder difusa a ideologia mercantil através da definição petrificada, parcial e falsa que ele dá das palavras.
    As palavras são apresentadas como neutras e sua definição como evidente. Porém estando sob controle do poder, a linguagem designa sempre algo muito diferente da vida real.  É antes de tudo uma linguagem de resignação e impotência, a linguagem da aceitação passiva das coisas tais como são e tais quais devem permanecer. As palavras trabalham por conta da organização dominante da vida e o fato mesmo de utilizar a linguagem do poder nos condena a impotência.
    O problema da linguagem está no centro da luta pela emancipação humana. Não é uma forma de dominação que se junta a outras, mas o coração mesmo do projeto de submissão do sistema mercantil totalitário.

    Para que uma mudança radical surja de novo, é preciso uma retomada radical da linguagem, e também da comunicação real entre as pessoas. É nisto que o projeto revolucionário se une ao projeto poético. Na efervescência popular, a palavra é tomada e reinventada por grupos extensos. A espontaneidade criadora se apodera de cada um e nos reúne a todos.
  


 Capítulo XVII: A ilusão do voto e da democracia parlamentar 

“Votar é abdicar.”

Élisée Reclus

 

parlement


    No entanto, os escravos modernos ainda se vêm como cidadãos. Eles acreditam que votam realmente e decidem livremente quem vai dirigir seus negócios. Como se eles ainda tivessem escolha. Apenas conservaram a ilusão. Vocês acreditam que ainda existe uma diferença fundamental quanto à escolha da sociedade na qual nós queremos viver entre o Partido Socialista e a Direita Populista na França, entre os Democratas e os Republicanos nos Estados Unidos, entre os Trabalhistas e Conservadores no Reino Unido? Não existe oposição, pois os partidos políticos dominantes estão de acordo sobre o essencial que é a conservação da atual sociedade mercantil.
    Não existem partidos políticos susceptíveis de chegar ao poder que duvidem do dogma do mercado. E são estes partidos que com a cumplicidade mediática monopoliza as aparências. Discutem por pequenos detalhes esperando que tudo fique onde está.  Brigam por saber quem ocupará os lugares oferecidos pelo parlamentarismo mercantil. Estas estúpidas briguinhas são difundidas pelos meios na intenção de ocultar um verdadeiro debate sobre a escolha da sociedade na qual desejamos viver. A aparência e a futilidade dominam profundamente o afronto e as idéias. Tudo isto não se parece nem de perto nem de longe a uma democracia.
    A democracia real se define primeiro e antes de tudo pela participação massiva dos cidadãos na gestão dos interesses da cidade. Ela é direta e participativa e encontra sua maior expressão na assembléia popular e no diálogo permanente sobre a organização da vida comum. A forma representativa e parlamentar que usurpa o nome da democracia limitam o poder dos cidadãos pelo simples direito ao voto, ou seja, a nada, tão real, que não existe diferença entre o cinza claro e o cinza escuro. As cadeiras do Parlamento estão ocupadas pela imensa maioria da classe econômica dominante, seja ela de direita ou da pretendida esquerda social-democrática.

    O poder não é para ser conquistado, ele tem que ser destruído. O poder é tirano por natureza, seja ele exercido por um rei, por um ditador ou um presidente eleito. A única diferença no caso da democracia parlamentar é que os escravos têm a ilusão de que podem escolher eles mesmos o mestre que eles deverão servir. O direito ao voto fez dos mesmos cúmplices da tirania esmagadora. Eles não são escravos porque existem amos, senão que existem amos porque decidiram permanecerem escravos.


Capítulo XVIII: O sistema mercantil totalitário

“A natureza não criou amos nem escravos, eu não quero dar nem receber leis.”
Denis Diderot

 satelite


    O sistema dominante se define então pela onipresença de sua ideologia mercante.  Ela ocupa ao mesmo tempo todo o espaço e todos os setores da vida. Ela não diz nada mais que: Produza, venda, consuma, acumula! Ela reduziu todas as relações humanas em relações mercantes e considera nosso planeta como uma simples mercadoria. O dever que nos impõe é o trabalho servil. O único direito que ele reconhece é o direito a propriedade privada. O único deus que ele adora é o dinheiro. 
    O monopólio da aparência é total. Somente aparecem os homens e os discursos favoráveis na ideologia dominante. A crítica deste mundo está afogada no mar mediático que determina o que é bem ou mal, o que se pode ver ou não.

    A onipresença da ideologia, o culto ao dinheiro, monopólio da aparência, partido único disfarçado de pluralismo parlamentar, ausência de uma oposição visível, repressão sob todas as formas, vontade de transformar o homem e o mundo. Eis o verdadeiro rosto do totalitarismo moderno que chamamos “democracia liberal”, porém é necessário chamá-la pelo seu verdadeiro nome: o sistema mercantil totalitário.

    O homem, a sociedade e o conjunto de nosso planeta estão ao serviço desta ideologia. O sistema mercantil totalitário realizou o que nenhum totalitarismo conseguiu fazer antes: unificar o mundo a sua imagem. Hoje já não existe exílio possível.



Capítulo XIX: Perspectivas


    À medida que a opressão se estende por todos os setores da vida, a revolta toma aspecto de uma guerra social. Os motins renascem e anunciam a futura revolução.

    A destruição da sociedade mercantil totalitária não é um caso de opinião. É uma necessidade absoluta num mundo que já está condenado. Pois o poder está em todos os lados, deve ser por todas as partes e todo o tempo que devemos combatê-lo.

    A reinvenção da linguagem, o transtorno permanente da vida cotidiana, a desobediência e a resistência são as palavras mágicas da revolta contra a ordem estabelecida. Mas para que desta revolta surja uma revolução, é preciso reunir as subjetividades em uma frente comum.

    É na unidade de todas as forças revolucionárias que devemos trabalhar. Isso só se pode conseguir quando temos consciência de nossos fracassos passados: nem o reformismo estéril, nem a burocracia totalitária não podem ser uma solução para nossa insatisfação. Trata-se de inventar novas formas de organização e de luta.

    A autogestão nas empresas e a democracia direta na escala comunal constituem as bases desta nova organização que deve ser anti-hierárquica tanto na forma quanto no conteúdo.

O poder não é para ser conquistado, ele deve ser destruído.






Capítulo XX: Epílogo 

“Cavalheiros, a vida é muito curta… Se nós vivemos, vivemos para andar sobre a cabeça dos reis.”

William Shakespeare, Henrique IV

lance pierre contre police

émeutes coktail molotov

explosion parlement

Jean-François Brient
Tradução: Elisa Gerbenia Quadros

































alizados. Pois seria incoerente propor uma crítica sobre a onipresença das mercadorias com outra mercadoria. A luta contra a propriedade privada, intelectual ou outra, é nosso golpe fatal contra a dominação presente.

    Este filme é difundido fora de todo circuito legal ou comercial, ele depende da boa vontade daqueles que asseguram sua difusão da maneira mais ampla possível. Ele não é nossa propriedade, ele pertence àqueles que queiram apropriar-se para que seja jogado na fogueira de nossa luta.



Saúde Mental. Quem está doente?

O enfermo mais difícil de ser curado em toda essa complexidade concreta da realidade é o Sistema – que adoece a todos, sempre ensejando o consumo desenfreado, o stress, a pressa, a correria, a má alimentação, os juros, as promoções de Mercado, diversos compromissos para fixar um status quo na sociedade, a inversão de valores, a busca pela propriedade, sem entender o sujeito que aquilo que ele pretende possuir é que o possui e que quanto mais ele pensa estar dominando o sistema, mais está dominado por ele, subjugado e escravizado; isso o dilacera, o adoece, mentalmente o faz chegar próximo à loucura.  
O Sistema, demente, produz pessoas fragilizadas, alienadas, sem dúvidas, que acreditam na obediência, no respeito às Instituições.  Pessoas que são vítimas da violência do Estado o tempo inteiro, mas são contra o que a verdade midiática veicula como vandalismo.  Pessoas servas, pessoas marionetes, pessoas fantoches a serviço das que comandam o Sistema, das que estão o tempo todo sendo beneficiárias do esquema sórdido de Poder e que são muito poucas,  pois a ambição é muito grande. 

julho 01, 2013

Reflexões

Também to querendo saber.  Chegando aos cinquenta, tenho mais perguntas que respostas, ainda quero mudar o mundo só que agora sei que não posso (rsrsrsrsr - riso amargo); gostaria de ter o senso de humor, a sabedoria e a coragem daquele pai de "a vida é bela"; sou expansiva, gosto de dar boas gargalhadas, mas sou corroída pela culpa cristã, pela cultura judaico-cristã na qual fui criada.  E aí o poeta disse:
                                       Todos tiveram pai, todos tiveram mãe, mas eu que não principio nem acabo, nasci                                                               do amor que há entre Deus e o diabo... a minha vida é um vendaval que se soltou, uma                                                     onda que se alevantou... É um átomo a mais que se animou... Não sei por onde vou, Não sei para onde vou ... só sei que não vou por aí...
mas é caro não ir por aí
o preço é alto
A sociedade não perdoa.  Não te dá nada, mas quer tua alma.  Eu não dei minha alma.  
O Sonho que acalento ainda em meu peito é morar  na zona rural, isolada, com os confortos da cidade e a tranquilidade da roça.  Tomar banho de rio, sentar embaixo de um pé de seriguela e só estender a mão, colher e chupar.  água de côco, cachorro de caça, uma espingarda, um facão, um chapéu grande na cabeça, botas rústicas nos pés, um carro na porta para se precisar... não luxo, conforto!  leiras de coentro, alface, salsa, criar umas galinhas, andar de canoa, deitar no meio da relva sem nenhum medo ou dar um grito debaixo da mangueira sem nenhuma vergonha.  Viajar sim.  É gostoso viajar, mas sempre poder voltar pra este lugar aconchegante chamado lar, lá!
O Magistério me deu grandes alegrias e honras.  Muitos alunos fizeram faculdade da disciplina que eu lhes ensinei, sou reconhecida por eles e isto me basta muito, mas dinheiro, vida boa, o Magistério não me deu não.  Também fiquei delirante muito tempo, desprezando acumular, guardar...
Hoje eu pinto... não porque saiba pintar, mas porque gosto de pintar, porque mexer com o pincel, as cores, as tintas, a imaginação, me dá muito prazer. e o prazer é um ponto fundamental para  auto estima .

maio 14, 2013

Saudades do Blog da Professora Lourdinha, que agora é a artista plástica Lourdes.  Minha vida pegou fogo, como se diz em Cântico Negro, de José Régio,  a minha vida é um vendaval que se soltou, uma onda que se alevantou, um átomo a mais que se animou.
Voltarei a postar.