março 31, 2017

Breve reflexão sobre a afrodescendência e a descendência indígena

     

“A educação colabora para perpetuar racismo”

Kabengele Munanga

          No Brasil escravagista ( não é mais?) – e a escravidão aqui durou mais de 350 anos – os africanos foram proibidos de falar sua língua, professar suas crenças e cultura;(ainda nos dias de hoje temos acompanhado Babalorixás e Ialorixás precisando brigar para manter seus terreiros de Candomblé funcionando), impedidos de aprender a ler e escrever – apenas os negros domésticos, os eleitos das sinhás, (as mulheres também não sabiam ler e viviam controladas primeiro pelo pai e depois pelos maridos) eram muitas vezes mandados a aprender para que lhes pudesse ler ou escrever cartas - e tudo que lhes dizia respeito ( aos negros) era feio e coisa do demônio, então seu cabelo é “ruim”, seu nariz “o boi pisou”, seus lábios são “grossos” e suas nádegas grandes. No branco tudo é belo, lindos olhos azuis, cabelos bons, nariz afilado...

          Quanto a ler e escrever, não existem mais proibições legais, mas uma práxis pedagógica indecente, que corrobora essa antiga perseguição a negros e pobres, onde faz-se de conta que se ensina e faz-se de conta que se aprende; mas, no futuro bem próximo, quando precisar ser aprovado em um concurso ou seleção, o indivíduo que permaneceu analfabeto toda a sua vida escolar, sentirá a falta que faz não ter cobrado dos mestres que lhe ensinasse de verdade.

          No Brasil indígena os nativos explicavam o trovão como uma zanga de Tupã. No Brasil do século XXI ainda ouço pessoas explicarem que, quando troveja, Santa Bárbara está zangada (Dona Iansã, no sincretismo religioso, que a perseguição religiosa gerou). Tudo bem se acreditassem nisso mas conhecessem a explicação científica para o raio e o trovão, mas não é o caso, como se pode verificar em sala de aula, seja ela do 6º ano do Ensino Fundamental ou do 9°, o que sinaliza que seu pensamento ainda é mítico e ainda não encontrou o uso da Razão.

          Não podemos esquecer de refletir também sobre o fato de que a colonização atuou diferentemente com o índio, pois “os negros não tinham alma”, mas os nativos deviam tê-la, já que os maiores intelectuais da Igreja Católica, os Jesuítas, vieram para cá, “salvá-los”. Ensinaram-lhes a falar sua língua e com isso o idioma de cada nação indígena foi sendo esquecido; ensinaram-lhes a fazer preciosos instrumentos musicais e depois mandavam-nos para a Coroa Portuguesa; vestiram roupas em seus corpos nus e livres, acostumados com o sol dos trópicos; encheram suas almas com a ideia do terrível deus católico, ensinaram sobre céu, inferno, purgatório e pecado ao mesmo tempo em que tentavam (e efetivamente conseguiram!) destruir sua mitologia e suas crenças.
    
          Os brancos (des)ensinaram aos índios! Fugindo da escravidão, eles atravessaram o continente, chegando até a Cordilheira dos Andes. Nações inteiras foram mortas e dizimadas, porque não aceitaram ser escravas do elemento colonizador.

          Nos dias atuais podemos acompanhar a saga dos remanescentes indígenas no Brasil, ainda sendo mortos por fazendeiros, latifundiários, grileiros e, principalmente, pelo próprio Estado, que não lhes oferece a proteção necessária e devida.

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